Não vem ao caso agora, mas quem leu o livro Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock´n´Roll Salvou Hollywood sabe que Steven Spielberg (e George Lucas) foi responsável por devolver o poder (tirânico) aos grandes produtores de Hollywood, depois de o cinema independente (feito pela geração da qual eles faziam parte) ter arrancado o controle daquelas mãos gordas e gananciosas. Nunca fumei Spielberg – nem estou a fim de fazer isso agora. O que importa é que ele acaba de lançar um filme urgente, vigoroso, oportuno: um murro, um urro em prol da liberdade – se não a do cinema (com a qual ele ajudou acabar), a de imprensa.
The Post fala do que rolou depois que pacifistas roubaram milhares de documentos ultrassecretos (sobre as mentiras vergonhosas que o governo dizia a respeito da guerra do Vietnã) e o New York Times e, a seguir, o Washington Post decidiram publicá-los, apesar da liminar em contrário de um juizeco de primeira instância. A ação se passa em 1971, quando o Post, em dificuldades financeiras, está abrindo o capital – e, dentre os investidores, há os que apoiam Trump, ops, Nixon... Antes de falar do Brasil, cabe lembrar que, dois anos após os fatos mostrados no filme, o caso Watergate (levantado pelo Washington Post) derrubou Nixon; que as dificuldades financeiras continuaram; que em 2013 o jornal foi comprado por Jeff Bezos (da Amazon) e que, quando Trump completou um ano no poder, o Post listou 2.140 mentiras comprovadamente ditas por esse escroque em 365 dias na Casa Branca.
A imprensa brasileira não é como a americana, porque o Brasil não é os EUA, porque nossa frágil democracia tropical tem 30 e não 240 anos ininterruptos e porque a sociedade e o Judiciário latinos não são anglo-saxões. Que a grande imprensa brasileira é naturalmente conservadora, não se discute. A norte-americana também é. O fato é que, desde Vargas, o jornalismo nacional tem cumprido seu papel – mais bem do que mal. A maioria dos grandes jornais apoiou o golpe de 64, é verdade. Mas a imprensa também lutou (em parte) pelas Diretas Já, fiscalizou Sarney mais que seus “fiscais” e, se ajudou a inventar Collor, também foi quem o derrubou. E até pouco tempo atrás, ainda investigava, descobria, revelava – antes de os procuradores ocuparem o lugar dos repórteres.
Mas o que interessa dizer é que aqueles que agora chamam a imprensa de golpista são os mesmos que, nos anos mais negros da censura e da ditadura, tiveram nela sua única voz. A imprensa está longe de ser perfeita – mas seria (e ainda pode ser) aperfeiçoável. A não ser, claro, que você prefira ficar lendo essa espécie de BBB da vida digital, o tal FakeBook. Ou blogs “progressistas” que seriam engraçados como O Bairrista, não fossem antes patéticos. Por fim, o que Lula, Bolsonaro e Aécio têm em comum? Os três dizem que a culpa é da imprensa. Veja The Post antes que seja tarde. E você não tenha nem mais papel para enrolar peixe...