Como Vinícius Júnior e Mbappé fracassaram com suas seleções nas copas continentais que terminam neste fim de semana, cresce a chance de o brasileiro ser coroado o melhor do mundo. No Real Madrid, ele foi personagem do título da Champions League. Talvez Jude Bellingham ainda possa ameaçá-lo. O meia de 21 anos corre por fora, mas não só do ponto de vista subjetivo.
Além de também ser destaque no time merengue que ergueu a orelhuda pela 15ª vez, é o único ainda na luta matemática. Finalista da Euro pela Inglaterra contra a Espanha, neste domingo, às 16h, no Estádio Olímpico de Berlim, o camisa 10 inglês pode deixar uma última impressão de campo mil vezes melhor do que Vini e Mbappé. Contra a Eslováquia, fez um golaço de bicicleta no último minuto, salvando a Inglaterra.
De qualquer maneira, Vini será candidato — com ou sem taça para Bellingham. Antes de entrar no mérito do que isso significa, uma breve explicação de como funciona o carimbo de melhor jogador do mundo a cada ano. São duas premiações, que lá atrás tentaram uma unificação, mas agora seguem cada uma para o seu lado. Uma é a Bola de Ouro, organizada pela tradicional revista France Football desde 1956, com peso e tradição. Outra é o Fifa The Best, que tem na chancela da Fifa sua grande força.
A Bola de Ouro será entregue no dia 28 de outubro, no Théâtre du Châtelet, em Paris. O The Best sai em janeiro, em data e local a serem definidos.
Há rivalidade entre as duas premiações. A partir deste ano, a France Football assina a Bola de Ouro ao lado uma parceira poderosa: a Uefa, cuja rivalidade nos bastidores com a Fifa renderia um livro de 400 páginas, entre traições e jogadas políticas.
Na Bola de Ouro, a organização faz uma lista prévia de 30 nomes, de onde uma centena de jornalistas escolhidos por país elege os cinco melhores, conforme pontuação de 1 a 6. Ganha quem somar mais pontos. Os critérios oficiais são: performance (principal deles), títulos e respeito ao fair-play. O The Best é diferente por envolver jogadores e treinadores.
Um conselho técnico da Fifa define 10 finalistas e os envia a um colégio eleitoral formado por jornalistas, capitães e técnicos das seleções. O público também vota, pela internet. Cada grupo tem peso de 25% na pontuação final.
Vini é um sortudo. Não tem de brigar com Messi e CR7, dois extraterrestres, diferentemente de Neymar. Este, aliás, sai da Copa América maior do que entrou no cenário brasileiro. Vini, Endrick e Rodrygo ainda não podem amarrar suas chuteiras. Abrir mão dele é suicídio rumo a 2026 — desde que disposto a competir em alto nível físico, é claro. Se voltar da lesão só 60% do que já foi, pega fácil no time de Dorival Júnior.
Bem, voltemos à escolha do melhor jogador de 2024.
Kaká foi o último brasileiro eleito, em 2007. Depois CR7 e Messi tomaram conta, revezando-se numa briga particular e vencendo a maioria — com exceção para os anos em que Lewandowski e Modric levaram a melhor. Vini é um sortudo. Não precisa competir com eles. Neymar é um azarado. Viveu o auge tendo de ser comparado a dois gênios. Foi o único a ameaçá-los, espécie de troféu moral que ninguém lembrará.
Trazendo aquele Neymar para hoje, não teria nem graça. Se Vini for Bola de Ouro ou The Best, estaremos diante de uma reflexão urgente. Ele nunca ganhou nada com a camisa da Seleção. Fracassou no Catar. Suas atuações ainda são caricaturas do que faz no Real Madrid. O fato é que Vini ainda não aconteceu na Seleção. Creio que vai, claro, mas até agora não aconteceu.
Se um jogador pode ser ungido o melhor do mundo mesmo opaco pelo seu país, sendo este o país o Brasil, e não a Polônia de Lewandowski, temos um problema. Perdemos relevância.
Por fim, Jude Bellingham. Se for campeão da Euro com a Inglaterra neste domingo (14), diante da Espanha, tendo às costas a 10 de Pelé, eis um grande candidato. Como o brasileiro, ganhou Champions pelo Real.
Que Vini reescreva a história, chegando ao topo do mundo para só depois ser protagonista na Seleção, ajudando a recuperar o respeito mundial pelo nosso futebol. Chegaríamos à Copa dos EUA com ele e Neymar voando. Sonhar não custa nada.