Nenhuma surpresa no fato de Eduardo Coudet falar em priorizar competição. Estranho era lá atrás alguém acreditar em disputar todas para ganhar, mesmo antes da enchente. O curioso é que, há alguns meses, quando alguém defendia o Inter focado em Copas — como fiz algumas vezes no Sala de Redação e aqui na coluna — a pancadaria corria solta em razão das boas contratações.
Compreensível. No universo vermelho, o personagem Coudet é muito forte. Tudo que não abonasse incondicionalmente alguma premissa inicial do Inter era visto como crítica ao técnico, tipo ame-o ou deixe-o.
Nunca se guie só pelo discurso oficial. O Inter insistia na ideia utópica das 38 finais. Após a derrota para o Belgrano, houve quem defendesse largar a Sul-Americana e pensar só no Brasileirão. Contra a maré, bati na mesma tecla, agora corretamente abraçada publicamente por Coudet.
Corações e mentes são tomados pelo mata-mata quando ele se aproxima. É possível que Coudet nunca tenha pensando diferente, inclusive. Foi defendido nas redes sociais com unhas e dentes neste aspecto sem pedir, agora causando constrangimento para seus seguidores mais radicais.
É que não tem jeito. Por dois motivos: atalho para título e exigência da torcida. Se o exame de CK, que mede o estresse muscular, apontar risco de lesão iminente de uma peça-chave, os técnicos seguram nos pontos corridos no domingo em nome do mata-mata da quarta. Isso nunca vai mudar. E vale até para Flamengo e Palmeiras, cuja fartura de elenco é muito acima dos outros.
A fala de Coudet após o empate com o Criciúma parece ainda um misto de desabafo e luz alta. Ele está perdendo Hugo Mallo, opção para a lateral direita. Há quem cogite a saída de Bustos, o titular. Fala-se numa possível venda de Vitão, outro essencial para seu modelo de jogo e que renovou nesta segunda-feira (1º), por ser zagueiro construtor. Haverá reposição? Pelo jeito, não. A base oferece alternativas? Também não.
Mauricio, a quem elogiava muito taticamente, se foi. É como se Coudet dissesse: "Cobram-me que seja campeão brasileiro por ter elenco farto, mas nunca tive todos os reforços à disposição e, ainda por cima, estou perdendo gente".