Não entendo o prestígio do pesto. Não que sinta ojeriza ao pesto, nada disso. Só não acho graça. Mas, na sexta-feira, fui falar mal do pesto no Sala de Redação, da Gaúcha, e causei revolta entre os ouvintes. Amantes do pesto de todos os rincões do Brasil deitaram a escrever defesas ardentes de seu molho preferido, e me enviaram seus arrazoados em e-mails pouco amigáveis. Durante o programa mesmo, o Maurício Saraiva saltou em defesa do molho pesto. Só que, educado como é, o Maurício apenas me convidou para provar massas ao pesto que ele garante que serão inesquecíveis.
Se isso realmente acontecer, se houver por aí uma massa ao pesto que me arranque suspiros de prazer, não me importo de voltar atrás. Virei aqui e direi: “Eu estava errado. Existe um molho pesto que redime todos os outros”.
Mas, até agora, os molhos pesto que já encontrei são desmaiados, anêmicos, sem vida. E essa é a palavra-chave, aliás: vida! É disso que estamos falando. De viver. Nós temos de sorver o sumo que a existência nos oferece até a última gota. Temos de nos repimpar. Não com pressa, não com gula, mas com deleite. Não temos tempo para o que é insosso. Não temos tempo para os tons pastel. Delicadezas? Sim. Amenidades? Por certo. Mas não o desânimo. Não o sensabor.
O Rio Grande do Sul se tornou um estado que padece desse mal, de se contentar em viver com emoções de molho pesto. É um estado que desistiu das grandezas, com duas refulgentes exceções: Grêmio e Inter.
Esse sentimento pequeno, medíocre e mesquinho, sei bem de onde vem. É fácil de identificar.
Olhe a orla do Guaíba, esse novo orgulho do porto-alegrense. Olhe e veja como a cidade está feliz com a execução desse projeto tantas vezes debatido e tantas vezes boicotado.
Agora há pouco, quando o grande Jaime Lerner foi contratado para fazer esse belo trabalho, houve porto-alegrenses que se ergueram em revolta. Queriam que o arquiteto responsável fosse escolhido por concurso, não por notório saber, portaram cartazes denunciando que Porto Alegre estava à venda, atiraram moedas em Jaime Lerner, chamando-o de mercenário.
Pois aí está. As lideranças da prefeitura souberam enfrentar os espíritos menores e Jaime Lerner entregou uma joia preciosa para desfrute da cidade.
Desta vez, Porto Alegre soube ser grande. O projeto da Orla é um prato com molho vermelho, denso, perfumado, que, antes mesmo de ser provado, excita a imaginação. Não aquela coisa verde e fria de que gosta o Maurício Saraiva, esse defensor dos pontos corridos. É isso. Vamos viver com grandeza e alegria todo o tempo que nos derem para viver.