Eu e meus amigos sentíamos muito medo de cachorro louco. Era um dos pesadelos da nossa infância. As histórias sobre pessoas contaminadas com raiva, depois de serem mordidas por cães doentes, eram assustadoras. A hidrofobia, os delírios, as dores cruentas, a morte certa.
Claro que, na época em que eu era guri, a morte por raiva já não era mais certa. Existia a vacina. Mas o tratamento, diziam, era levar 21 injeções em volta do umbigo, um pavor. Quem quer levar 21 injeções em volta do umbigo?
Antes da vacina, porém, a pessoa que fosse mordida por um cão raivoso estava condenada a um fim inevitável e atroz. Para você ter uma ideia do que quero dizer com “inevitável e atroz”, relato o seguinte: quando os cientistas estavam desenvolvendo a vacina, tinham de, obviamente, lidar com cachorros infectados. Havia, portanto, alto de risco de um deles ser atacado pelo bicho. Assim, eles trabalhavam com um revólver sobre a mesa do laboratório. Se um fosse mordido, os outros deveriam executá-lo imediatamente, para lhe poupar o sofrimento. Eis a prova de como a eutanásia é clemente...
Bem. Numa manhã de julho de 1885, o menino Joseph Meister, de nove anos, caminhava pela rua de uma pequena cidade da Alsácia e um cachorro louco pulou sobre suas pernas. Joseph foi mordido nada menos do que 14 vezes, o que por si só já seria horrível, se não fosse ainda pior: não havia dúvida de que ele fora infectado pela raiva.
A mãe de Joseph, no entanto, ouvira falar de um médico chamado Louis Pasteur, que estava desenvolvendo a vacina antirrábica em Paris. Desesperada, ela pegou o filho e tomou um trem de ferro em direção à capital. Lá chegando, só encontrou dificuldades. Pasteur tinha muitos inimigos, entre eles diversos médicos que não acreditavam na vacina. Quando a mãe aflita perguntava por ele em um hospital, as informações eram vagas e às vezes falsas. Uns diziam que Pasteur não estava na cidade, outros informavam incorretamente o endereço do seu hospital. Por fim, a mãe de Joseph caiu em prantos, até que uma alma generosa se compadeceu dela e a levou a Pasteur.
– Salve meu filho! – ela implorou.
Mas Pasteur vacilou. A vacina ainda não estava pronta. Será que deveria testá-la em humanos?
A mãe de Joseph não desistiu, suplicou, disse que já não havia mais muito tempo, pois fazia dois dias que o menino fora mordido. A nova droga era sua única chance. Pasteur cedeu. Durante duas semanas, aplicou injeções na barriga do garoto, aumentando a dose a cada dia. Ao fim do tratamento, Joseph estava curado. A vacina funcionava! O mundo entrou em grande júbilo com essa descoberta que salvou milhões de vidas. E Joseph ficou tão agradecido que, mais tarde, já adulto, foi trabalhar no Instituto Pasteur como zelador.
Pois agora, tanto tempo depois, uns e outros não querem se vacinar. Meu Deus! Por todas as mães desesperadas do mundo, por todos os pequenos Josephs, por favor, acreditem na ciência!