A verdade é que muita gente tem problema com a ervilha. Antigamente, eu fazia um molho vermelho para o macarrão. Era um molho denso, bem temperado, e nele colocava ervilha. Mas, uma vez, o meu amigo Dinho, que volta e meia jantava lá em casa, suplicou:
– Pelo amor de Deus, não põe ervilha!
Aquilo magoou meus sentimentos mais profundos, mas cedi: não pus mais ervilha.
Doutra vez, me preparava para fazer comida para nós, lá na Praia Brava, e o meu amigo Degô comentou:
– O David gosta de ervilha...
Senti naquela observação sutil uma crítica atroz e, constrangido, retirei a ervilha da minha própria receita.
A Marcinha, uma noite fiz o jantar para nós e, quando olhei para o prato dela, vi que as ervilhas tinham sido apartadas – estavam reunidas tristemente num canto, intocadas e perplexas.
– Não sou muito de ervilha – ela explicou.
Acontece que gosto da ervilha, e gosto dela no molho. Tanto que, dias atrás, sonhei com a ervilha, mas não apenas com ela: sonhei com ervilhas que pontilhavam num molho de cachorro-quente. Quer dizer: o protagonista do meu sonho foi o cachorro-quente que tinha nas mãos, só que o que mais lembro desse cachorro-quente é que ele levava ervilha no molho vermelho, além de queijo parmesão com fartura e, talvez, um ou dois grãos fugazes de milho. Que cachorro-quente era aquele? De onde vinha? Quem o fizera?
Por isso, ao acordar, a primeira frase que disse foi:
– Acho que era o cachorro-quente do Rosário.
A Marcinha, ao meu lado, estranhou:
– Hein?
– Nada, nada.
Ela não entenderia.
Não sou de sonhar com comida, não sou um glutão, mas aquele sonho me deixou com vontade de comer cachorro-quente. Não qualquer cachorro-quente: o melhor. Queria, simplesmente, experimentar O Melhor.
Naquela manhã, falei isso para os meus colegas do programa Timeline, o que motivou aceso debate. Qual é o melhor entre todos os cachorros-quentes? Cada um tinha sua opinião e passou a defendê-la como se estivéssemos falando de política. A Lisi, da produção, chegou a mostrar uma foto do seu cachorro-quente preferido, que, aliás, me pareceu bem bonito, só que meio exagerado na maionese.
Aí é que está: a maionese pode desfigurar um cachorro-quente. E até, juro, não sou contra a maionese. A prova é que, quando guri, inventei um lanche em que espalhava, sobre a fatia de pão, uma camada de maionese da espessura do dedo minguinho da Marina Ruy Barbosa, mais uma nódoa generosa de mostarda e uma chuva de queijo parmesão. Fica uma delícia. Tente.
De qualquer forma, a questão do Melhor Cachorro-Quente continua me intrigando. Assim, estou tentando convencer meus colegas de Timeline a instituir um concurso, o “Prêmio Timeline de Melhor Cachorro-Quente do Mundo”. A ideia é nós sairmos pela cidade experimentando concorrentes e dando notas a cada um. Fará bem para a comunidade essa disputa, porque as pessoas esquecerão um pouco Lula, Bolsonaro e a classificação do Campeonato Brasileiro. Vamos deixar de lado essas bobices e nos concentrar no que realmente é prazeroso e nutritivo. Vamos escolher qual é O Melhor Cachorro-Quente do Mundo.