Bolsonaro esbravejou o seguinte em seu discurso nesse 7 de Setembro:
“Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou pode sofrer aquilo que nós não queremos”.
Um tom óbvio de ameaça, só que ele não disse quem é o chefe do poder ameaçado, não disse qual é o poder, não disse quem tem que ser enquadrado, nem o que será feito, se não houver o enquadramento.
Uma ameaça que mais parece blefe. Uma ameaça de quem sente medo de ameaçar. Se ele fosse mesmo o valentão, falaria com clareza:
– Se Luiz Fux não enquadrar o Alexandre de Moraes, vou mandar o Exército fechar o STF e escolher outros 11 ministros.
Porque era isso que ele queria dizer, não era?
Neste sentido, o filho dele Eduardo Bolsonaro foi muito mais corajoso quando afirmou que bastariam um cabo e um soldado para fechar o STF. Depois, Bolsonaro, o pai, alegou que Eduardo “é um garoto” e mandou que ele pedisse desculpas. Eduardo obedeceu.
Isso aconteceu há três anos, ainda na campanha eleitoral. Naquele momento, Bolsonaro foi acometido pela sensatez dos candidatos. Observou que quem fala em fechar o STF tem de procurar um psiquiatra e chegou a chamar os membros do Judiciário de seus irmãos.
Agora mudou. Afinal, ele não é mais o candidato, ele foi eleito. Ele tem o poder. Mas o temor goteja de seu discurso. O que Bolsonaro deu a entender, com sua frase repleta de elipses, é que seu poder não é tão forte assim. Parece o cachorro que late esperando que isso seja suficiente para fazer o invasor sair correndo. E se não for suficiente? E se o invasor for em frente e pular o muro? E se Fux não enquadrar Alexandre de Moraes? O que fará Bolsonaro? Vai arregimentar aquele cabo e aquele soldado? Duvido.
Bolsonaro continua falando apenas para seus seguidores, como se ainda estivesse em campanha. Com o prestígio em queda, com sua reeleição ficando a cada dia mais distante, era preciso ungir um novo inimigo interno. Os petistas foram colocados de lado, momentaneamente, e o STF assumiu esse papel. Serve como fator de coesão e como manobra diversionista. Serve como distração, não muito mais do que isso.
Bolsonaro não fará nada contra o STF.
O STF não fará nada contra Bolsonaro.
Volta e meia, os bolsonaristas encontrarão um motivo para vestir a camisa da Seleção e sair às ruas. Assim será até a eleição, quando os brasileiros, mais uma vez, tentarão corrigir o seu futuro, esse futuro que não chega nunca.