Sei exatamente o ano em que andava aficionado por Martini Bianco: 1983. Foi o ano em que o Grêmio ganhou a Libertadores e, em dezembro, o Mundial Interclubes. Ocorre que, no dia da batalha de La Plata, contra o Estudiantes, eu, o Sérgio Lüdtke e o Rocha fomos de carro para Santa Cruz.
Agora, pesquisando, descobri que dia foi aquele: 8 de julho, uma sexta-feira. Ao chegarmos a Santa Cruz, fomos assistir ao jogo em um bar que ficava em um posto de gasolina. Não sei por que fomos a Santa Cruz, lembro de poucas coisas daquele final de semana. Minha recordação mais sólida é de uma garrafa de Martini Bianco que, por algum motivo, foi posta entre as minhas mãos, no banco detrás do carro. Fui bebendo aquele Martini no gargalo mesmo e, quando cheguei a Santa Cruz, estava mareado.
Mas o exagero não foi suficiente para me fazer sentir repugnância por Martini Bianco, como aconteceu momentaneamente com os vinhos e os licores em episódios que já narrei. Apenas passei a ter mais cuidados com bebidas docinhas. Tudo que é muito doce é perigoso, essa é a verdade da vida.
Constate você, com essas histórias que venho contando nos últimos dias, que posso me tornar um homem de excessos. Ou podia, agora tento ser mais contido. Foram-se a juventude e a ousadia.
Quanto aos martínis, passei a preferir os secos. O dry martíni. É que gosto de filmes e livros de detetive, e os detetives americanos adoram dry martíni. Com azeitonas, evidentemente, o dry martíni, sem azeitona, perde sua alma. Então, sorvendo um dry martíni com um ar reflexivo, sinto-me Phillip Marlowe, e é bom se sentir Phillip Marlowe.
Marlowe também gostava de uísque de centeio, o rye whiskey. Ou de bourbon, como o Jack Daniel’s. Uma vez, estava na Escócia, visitando uma fábrica de uísque. O cicerone perguntou se eu tinha algum uísque em casa e respondi que sim.
– Qual? – ele quis saber.
Eu:
– Jack Daniel’s.
Ele deu um tapa na própria testa:
– Não! Não! Não! Jack Daniel’s não é uísque!
A seguir, passou 10 minutos me explicando a diferença entre bourbon e uísque. Ouvi com toda a atenção e hoje já não sei mais nada. Em todo caso, aprecio bourbons. Como Marlowe. Se você não conhece Marlowe, vou reproduzir aqui um texto de A Dama do Lago, em que ele se apresenta assim:
“Sou um detetive particular e já tirei minha licença há um certo tempo. Sou um lobo solitário, solteiro, chegando à meia-idade, e não sou rico. Já fui mais de uma vez para a cadeia e não atuo em casos de divórcio. Gosto de bebida, de mulheres, de xadrez e de poucas coisas mais.”
Philip Marlowe é o cara, como diria Obama.
Mas estamos falando de drinques. Para acompanhar uma refeição, haverá de ser cerveja ou vinho, é claro. Tenho amigos que sabem muito de vinho. Eu os invejo. Gostaria de sorver um gole de tinto e, em seguida, fazer uma avaliação usando palavras como: encorpado, herbáceo, frutado, aveludado, amadeirado...
Mas não cheguei a esse nível. Sou um bebedor vulgar. Cometo infrações como fazer caipirinha com vodca, por exemplo. Aliás, é o que vou fazer agora mesmo. Vou preparar uma caipira e reler algum clássico do Philip Marlowe. Bom fim de semana.