Existiam só dois tênis no Brasil quando eu era guri: o Conga e o Bamba. Depois é que surgiu o Ki-Chute, um tênis meio chuteira, preto, com travas de borracha. Uma vez, ganhei um Ki-Chute, e foi uma emoção. Amarrava o cadarço na canela, que nem os argentinos, e tinha a nítida impressão de que estava correndo tão rápido quanto o Ciborgue. Foi aí que decidi ser ponta.
Esse Ki-Chute eu o ganhei numa data especial, Natal ou aniversário, porque, em geral, a mãe só comprava Conga, que era bem mais barato. O Bamba era mais sofisticado, mais burguês. Um tênis fino. Um dia, a Alice apareceu usando Bamba branco e um vestidinho leve, floreado, quase bucólico. Foi uma visão inesquecível, tanto que me lembro dela agora.
O problema do Conga é que ele entrava em estado de decrepitude rapidamente. A partir de certa altura do ano, se o uso fosse constante, a lenda que corria era de que o Conga produzia um chulé invencível. Era preciso encher o tênis de talco para calçá-lo. Então, a mãe tinha de comprar quase que um por ano e, quando comprava, era sempre no mesmo pedaço da temporada: a primeira semana de setembro. É que as escolas exigiam que a gente usasse tênis Conga nos desfiles do dia 7.
Eu odiava ter que desfilar, mas desfilei todos os anos da minha vida escolar, todos, até o terceiro ano do segundo grau. Assim, o que ficou do dia 7 de Setembro, para mim, não foi nenhum sentimento ufanista, de orgulho pátrio ou coisa que o valha. Foi a sensação de que estou com um par de tênis Conga nos pés.
Feriado de 7 de Setembro. A manhã está nascendo, eu estou acordando e a primeira coisa que penso é: tenho de calçar aqueles Congas. Ah, mas, felizmente, não há Conga para calçar, nem parada para desfilar. Estou livre, enfim. Posso passar o dia inteiro me sentindo de Conga, mas, em seguida, lembro: aquele tempo acabou, tudo passou. Livre!
Hoje, vendo o crescente número de pessoas que incensam o militarismo, que juram que o Exército tutelando a política seria a salvação do país, hoje concluo: esses não tiveram de desfilar com tênis Conga.
O Grêmio não cai II
O Grêmio perdeu sem jogar, disse o Pedro Ernesto no Sala de Redação desta segunda-feira. Porque os adversários diretos do Grêmio, na luta contra o rebaixamento, venceram e se foram embora tabela acima.
Imagino a angústia do Luiz Felipe e dos jogadores olhando a classificação. Mas é exatamente por isso, por olhar para a tabela, que um time grande resvala tanto quando está na zona de rebaixamento. É preciso pensar jogo a jogo, um por vez, sem olhar para trás ou para frente. É preciso definir um time, um jeito de jogar e insistir na fórmula mesmo que, no começo, ela pareça não dar certo.
O Grêmio tem dois bons goleiros, tem dois bons laterais, tem Kannemann e Geromel, tem volantes que sabem jogar, mais Campaz, Ferreirinha, Borja e Diego Souza. Tem time. Não vai cair.