O que vai acontecer no Sete de Setembro? Tenho ouvido essa pergunta. As pessoas temem que os bolsonaristas tentem dar um golpe de Estado ou que cometam qualquer outra violência política do gênero, em meio às manifestações marcadas para a data.
Bem. O Brasil é mesmo um país imprevisível. Aqui, tudo pode acontecer, tudo é sempre agitado, nervoso, inconstante. Mas um governante, para dar um golpe de Estado, precisa ter um pouco mais de prestígio e força do que Bolsonaro vem demonstrando.
Em todo caso, como disse, nós vivemos em um lugar imprevisível. Vai que...
Tenho a convicção de que nossos defeitos foram acentuados pela fórmula de nação que resolvemos adotar. Nós nos baseamos no modelo americano. Um erro. Aquele tipo de presidencialismo só dá certo nos Estados Unidos. Os americanos têm uma vantagem sobre o resto do planeta: sua Constituição faz parte daquilo que Jung definiu como “inconsciente coletivo” do país. Assim, cada cidadão compreende que existe algo acima de qualquer pessoa, inclusive do presidente da República: a lei.
A França adotou um regime parecido com o americano, e não funcionou. Mesmo que eles digam que é um “semipresidencialismo”, que existe a figura do primeiro-ministro, a verdade é que a população espera muito do presidente.
Os franceses vivem em eterna crise de identidade. Tiveram longos períodos de monarquia absolutista, e foi nesse tempo que o país conquistou sua glória. Mas experimentaram o gosto da rebeldia da Revolução Burguesa, que contestou as velhas autoridades. Assim, os franceses se tornaram brasileiros com grife: querem que o governo resolva todos os seus problemas, estão sempre reclamando e colocam nos outros a culpa por sua infelicidade.
No Brasil não há disfarce: o sistema é copiado dos Estados Unidos, com alguns ajustes. Parece fazer sentido. Afinal, estamos falando de dois países imensos, descobertos quase ao mesmo tempo pelos europeus, que foram escravocratas e estão no mesmo continente. O problema é que nossas infâncias foram diferentes. Lá, eles cresceram com a ideia de que todos são iguais perante a lei. Aqui, nós crescemos com a ideia de que tudo pode se ajeitar, se falarmos com a pessoa certa.
É por isso que, para nós, o regime menos falho é o menos pessoal: o parlamentarismo. O poder e as responsabilidades são compartilhados e, aos poucos, o sistema vai se depurando. Se o primeiro-ministro for ruim, ele é substituído com menos traumas do que um presidente afastado por impeachment. O personalismo é desestimulado e as tentações golpistas são mínimas.
No parlamentarismo, um Sete de Setembro como este que vem chegando é só uma data comemorativa, ninguém fica apreensivo. As escolas desfilam, os militares desfilam, as pessoas vão para a praia e, no dia seguinte, voltam à rotina de seus trabalhos. Tudo monótono, tudo meio sem graça. Como tem de ser.