Há pessoas que adoram usar . Sério. Eu, para mim a máscara é um incômodo. A respiração embacia os óculos, e às vezes me sinto sufocado. Outra coisa: não posso usar máscara velha. Porque sinto aquele cheiro rançoso e chega a me dar ânsia de vômito. Você vai dizer que é muita frescura minha, mas o que é que posso fazer, se tenho um nariz sensível? Não, não, minha máscara haverá de ser tinindo de nova. E também não uso de pano, só as de papel, que a gente compra na farmácia, que são mais leves.
Quer dizer: não uso a máscara de forma natural, como se fosse um par de meias, aquilo de botar a máscara e sair por aí. Não mesmo. Se estou de máscara, sempre sei que estou de máscara, não esqueço dela, e quero removê-la o quanto antes.
Mas tem gente que não é assim. Tem gente que está apreciando a necessidade de usar máscara como se fosse um item fashion. Dias atrás, acompanhei uma longa conversa de três jovens senhoras a respeito da máscara e fiquei embasbacado. Não foi uma conversa que ouvi. Foi uma aula ministrada por três mestras.
Essas três, Ana Maria, Moema e Noca, se tornaram especialistas no assunto nesse ano e meio de pandemia. Tudo o que elas falaram sobre o tema, durante pelo menos meia hora, deixou claro para mim que já foram formulados rígidos códigos de ética e etiqueta a propósito da máscara.
Por exemplo: o chamado “face shield”, que parece aquelas proteções de soldador, está absolutamente fora de moda. Jamais coloque um face shield, a não ser que você não tenha receio de ser démodé.
Outra: é apropriado vestir duas máscaras sobrepostas em ambientes fechados, mas é preciso cuidar da combinação. Uma das mestras, acho que Moema, viu alguém usando uma máscara petit pois em cima de uma chocantemente vermelha.
— Por favor! — criticou ela. — Se vais colocar duas máscaras e uma é petit pois, a outra só pode ser branca!
Achei muito sensato.
Percebi que, das três mestras, a que usa máscara com maior naturalidade é Ana Maria. Ela já foi vista dirigindo seu carro pelas ruas de Porto Alegre, sozinha, de máscara. Ana Maria não pode ver um novo modelo de máscara à venda, que tem de comprar.
— Essa aqui é excelente — comenta. — É anatômica, e tem um ferrinho pra gente fixar bem no nariz.
Você jamais vai ver Ana Maria usando uma máscara com anúncio, ou máscara de time de futebol, ou com alguma mensagem política.
— Péssimo gosto— diz.
Noca, no entanto, observa que o importante é você se sentir bem dentro da máscara.
— Você tem de estar confortável — ensina. — A máscara tem de ser uma extensão do seu corpo. Ela tem de ser um pouco de você.
Eu flutuava em toda aquela sabedoria, quando a conversa delas terminou. Tirei do bolso minha humilde máscara de papel, olhei-a bem e respirei fundo. Disse para mim mesmo, num suspiro:
— Oh, Deus, como tenho a aprender...