Ninguém se torna grande sendo cauteloso. A grandeza implica riscos, certa irresponsabilidade, você tem que fazer as coisas de um jeito que ninguém fez antes, tem de cruzar o Rubicão e dar de ombros: “A sorte está lançada”.
A Torre Eiffel, quando seu projeto foi apresentado, dezenas de pessoas cautelosas se levantaram contra. Porque seria uma gastança inútil, porque aquela monstruosidade de metal desfiguraria a paisagem elegante de Paris. Mesmo assim, a construção foi em frente. Para calar os opositores, as autoridades alegaram que a torre seria provisória. Ficaria de pé apenas durante a exposição internacional de 1889, que comemorava os cem anos da Revolução Francesa, e depois viraria sucata. Pronta a torre, o mundo se espantou com aquela obra-prima da engenharia e a reverenciou como expressão da ousadia gaulesa. Mas muitos parisienses continuaram torcendo o nariz para ela. O escritor Guy de Maupassant, famoso contista, o Sérgio Faraco da França, a odiava. Um dia lhe perguntaram por que, detestando a torre, almoçava todos os dias em seu restaurante. Ele respondeu:
– Porque é o único lugar de Paris de onde não posso vê-la.
É assim que é. Se você for dar atenção a todas as ponderações, não fará nada de realmente importante. Fará apenas mais do que já foi feito.
Olhe o Grêmio de Romildo. De repente, por um pouco de sorte e muito de competência, foram criadas condições para que algo de grande acontecesse com o clube. Reuniram-se os talentos de alguns jogadores mais maduros, como Kannemann, Geromel, Douglas e Maicon, e outros mais jovens, como Luan, Pedro Rocha e Wallace. Essa conjunção continuou com nomes emergentes, como Arthur e Éverton. Ao mesmo tempo, a direção teve o bom senso e a capacidade de sanear o clube financeiramente.
Estava tudo dando certo, e títulos pesados vieram. Pois bem. Essa era a hora da audácia. Essa era a hora de apostar na grandeza. Outros dirigentes do Grêmio e do Inter compreenderam esse momento, no passado. Times vencedores foram reforçados com contratações pontuais e desassombradas: Paulo César Caju, Tita e Dener no Grêmio; Lula e Marinho Peres no Inter.
Era esse tipo de perfil irretocável de jogador que deveria ter sido buscado pela direção do Grêmio. Mas não foi o que se deu. Ao contrário, o Grêmio contratou com irritante prudência e manteve jogadores contestados no grupo, com o argumento de que eles ficariam na reserva. Só que o reserva acaba jogando, e esses reservas precários acabaram sendo responsáveis por algumas desclassificações relevantes do time.
Hoje, o Grêmio está pagando o preço dessa circunspeção, que foi tamanha que se tornou negligência. Porque os jogadores mais maduros envelheceram, e os jovens talentos foram embora. O que sobrou é pouco para os desafios que o time tem a enfrentar.
Felipão terá de fazer milagres técnicos, táticos e, sobretudo, psicológicos nesse grupo. Terá de mostrar aos jogadores que a grandeza prometida se esfumou há muito. E que, agora, só o esforço, o humilde, pedestre e obreiro esforço, os salvará da ruína dos pequenos.