O ódio é feio. O ódio faz mal mais a quem odeia do que ao odiado. Mas há quem utilize o ódio como uma ferramenta de trabalho e há quem o adube e regue a cada dia, como se fosse uma flor.
Eu, por natureza, não sou um homem de ódios. Ao contrário, acredito nas virtudes cristãs do perdão, da tolerância e do amor ao próximo.
Sei que, hoje, é até meio babaca se referir a “virtudes cristãs” e “amor ao próximo”, mas não estou tecendo considerações religiosas, e sim filosóficas. Não se trata de fé, portanto, mas de convicção intelectual: entendo que as pessoas são mesmo o que há de mais importante na vida, que elas são, de fato, “o sal da terra” e que devemos evitar julgá-las, até porque “cada um julga o outro com sua própria medida”.
Mas nenhuma dessas ideias impediu que, nesta semana, sentisse crescer-me no peito um sentimento bem próximo do ódio por certos atos praticados por uma moça chamada Sara Giromini, que se apresenta de público como Sara Winter.
Essa senhora é useira e vezeira de cometer manifestações patéticas na internet. Tudo bem, não é a única. Só que, desta vez, ela foi longe demais. Desta vez, o que ela fez foi imperdoável. Foi ela quem divulgou, nas redes sociais, o nome e outros dados da menina de 10 anos de idade que ficou grávida ao ser estuprada pelo próprio tio, no Espírito Santo.
A divulgação não apenas expôs a criança, como açulou contra ela os grupos antiaborto. Tangidas por Sara, cerca de 200 pessoas foram para a calçada em frente ao hospital em que estava internada a menina a fim de acusá-la, e ao médico que a atendeu, de assassinato.
É algo difícil de acreditar, mas é verdade: pessoas adultas saíram de suas casas para fazer uma coisa dessas.
A fúria dos grupos religiosos era tamanha que a menininha teve de entrar no hospital escondida no porta-malas de um carro. Durante o procedimento, ela ouvia os gritos dos manifestantes abraçada a uma girafa de pelúcia.
A criança, assim, foi estuprada duas vezes: pelo tio, que é um monstro, e por Sara Winter, que foi igualmente monstruosa.
Em média, no Brasil, ocorrem por dia seis abortos de meninas de até 14 anos que foram vítimas de estupro. Ou seja: a tragédia do Espírito Santo é desgraçadamente comum. O que houve de diferente, neste caso, foi a divulgação da identidade da vítima nas redes sociais.
Sara Winter tornou público o nome de uma criança seviciada, fez dessa criança alvo de grupos ideológicos, expôs sua dor para todo o Brasil. Como essa criança voltará para casa agora? Como irá para a escola? Como levará uma vida normal e feliz, como devem levar todas as crianças?
Foi uma covardia. Foi uma maldade. Foi odioso.
Por algum tempo, fiquei pensando se era ódio o que estava sentindo pelo que perpetrou Sara Winter. Depois compreendi que não. Compreendi que era, apenas, nojo.