A dor do outro não deve ser subestimada. Porque não existe medida para o sofrimento. O que para o mundo é “motivo fútil”, para um indivíduo pode ser o desespero.
Às vezes, quando a pessoa resiste à angústia e vai em frente, o mal passa. Então, ela olha para trás e, do alto da perspectiva histórica, se admira:
“Como pude sofrer tanto por isso?”
O amigo conselheiro, o pai vigilante e o psicanalista dedicado têm essa função: de fazer com que você se veja de fora para dentro, como se fosse outra pessoa. Mas isso não é tão fácil. É preciso autocrítica, e quase ninguém tem autocrítica.
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Você pode observar essas “coisas do mundo”, como diria o Paulinho da Viola, analisando algumas ocorrências do futebol. Eis a razão da popularidade deste esporte. Cada jogo é uma história, cada time é um personagem – o futebol é uma alegoria da vida.
Fiquei encantado com o episódio dos 8 a 2 que o Bayern aplicou no Barcelona. Por que um dos clubes mais poderosos do planeta vai à falência dessa forma? O que houve para que jogadores milionários e bem-sucedidos se desconcentrassem tanto e se submetessem ao adversário praticamente sem reação? Aí é que está: quando um time grande é goleado, as razões sempre são mais emocionais do que técnicas. Deve ser interessante perscrutar que dores andam afligindo o Barcelona.
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Lembro dos 7 a 1 da Copa. O Brasil estava estraçalhado emocionalmente. Os jogadores choravam na execução do Hino Nacional, havia um clima de comoção patriótica em cada partida e uma confusão de sentimentos. Alguns gritavam “não vai ter Copa!”, outros se ufanavam do seu país, e os jogadores em meio a isso tudo, olhando para os lados, perplexos, sem saber o que pensar. O 7 a 1 foi uma consequência do ambiente. Não foi um resultado de jogo. Foi um resumo de tudo em que se transformaria o Brasil. Foi o fato que antecipou a nossa realidade amarga.
Desde então, estamos mais do que divididos; estamos descontrolados. Os brasileiros rapidamente foram perdendo o respeito uns pelos outros. A ofensa é fácil, a crítica agressiva é norma. A falta de educação é considerada espontaneidade, o insulto virou sinônimo de coragem e a calúnia se transformou em instrumento político. Vendo, todos os dias, as manifestações nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, estremeço de horror, me decepciono com meus irmãos brasileiros e sinto vontade de me fechar com meus amigos, meus livros, meus discos e nada mais.
Os 7 a 1 da Copa foram apenas um prenúncio. Estamos sendo goleados todos os dias.