Responsável por realizar o aborto na menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada, o ginecologista Olímpio Barbosa de Morais Filho, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), ressaltou, em entrevista ao Gaúcha Mais, que "a saúde da mulher deve ser tratada nas evidências, não através de ódio" e pontuou a necessidade de sigilo do caso:
— É tomado um cuidado muito grande para que a sociedade seja trabalhada, para que não seja perpetuada essa marca que fica na vida dela (da criança). Que seja protegida essa criança para que ela não receba mais violência pelo fato do passado.
Ele disse ainda que o desafio é "fazer com que ela (a menina) possa começar a viver".
— Isso vai depender (de diversos fatores). Ela provavelmente não vai poder voltar pra casa, para não ficar marcada pro resto da vida. Ela precisa passar uma borracha no passado. Pra ela reconstruir a sua vida. Na verdade, a vida que ela nunca teve — completou.
A criança está recebendo todo o apoio necessário após o procedimento, assegurado pela lei em caso de estupro, conforme o ginecologista. Segundo ele, o risco para a criança de 10 anos desenvolver problemas de saúde durante a gestação seria de 50 a cem vezes maior do o de uma mulher adulta.
Entenda o caso
A gravidez da menina foi descoberta em 7 de agosto, quando ela foi ao hospital, na cidade de São Mateus, no Espírito Santo, se queixando de dores abominais.
A menina, que morava com os avós, relatou que começou a ser estuprada pelo próprio tio desde que tinha seis anos. Ele tem 33 anos e foi indiciado por estupro de vulnerável e ameaça. O suspeito foi preso durante a madrugada desta terça-feira.
No sábado (15), por determinação da Justiça, a menina chegou a ser internada em Vitória, capital capixaba, para realizar o procedimento. Um grupo de militantes antiaborto, incitados nas redes sociais pela extremista de direita Sara Winter, cercou a entrada do hospital onde a menina faria o aborto. Gritavam ofensas a funcionários do estabelecimento e aos médicos. A direção de um hospital desistiu e a menina teve de viajar para outro Estado para garantir o direito de terminar com a gravidez fruto de violência sexual.
O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, instaurou um pedido de providências para que o Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES) preste informações sobre as providências em relação ao caso adotadas pelo Judiciário local. O ministro corregedor também determinou que a Corregedoria-Geral da Justiça do Espírito Santo acompanhe e apure os fatos e remeta o resultado da apuração ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ).