Em Parma não existe bife à parmegiana. Quando disse isso, o Magro Lima obtemperou, que ele é de obtemperar, que em Parma TODOS os bifes são à parmegiana.
Bem obtemperado. Mas o fato é que o nosso tradicional bife à parmegiana, com muito queijo derretido por cima e muito molho vermelho por baixo, não foi concebido em Parma. Aliás, há outra curiosidade a respeito: o bife à parmegiana é à milanesa. Ou seja: é empanado. Mas isso, de se fritar o bife envolto em farinha de rosca com ovo, isso realmente se faz em Milão, e dizem que se faz há um milheiro de anos. Logo, em Milão existe bife à milanesa, mas, a 130 quilômetros de distância, em Parma, repito, não existe à parmegiana.
Muito já se especulou acerca da origem do bife à parmegiana. Já ouvi falar que ele, o bife, teria surgido precisamente em 1917, durante a Revolução Socialista. Os russos, enfrentando sérios problemas de escassez de alimentos, teriam aproveitado queijos já endurecidos pelo tempo derretendo-os sobre bifes.
Não acredito nessa versão. Sei que o estrogonofe, sim, foi difundido pelo mundo por causa da Revolução Russa – um nobre chamado Stroganov levou a receita para a França quando fugiu dos bolcheviques. Certo, isso é plausível. Mas o estilo da culinária russa não combina com o bife à parmegiana. Não mesmo: o bife à parmegiana tem de ter algo de italiano, nem que seja de italiano desterrado.
Há outra tese ainda mais fantasiosa: um italiano enamorado de uma moça chamada Giana preparou-lhe a iguaria e, desta forma, arrebatou-lhe o coração. Depois do que, entusiasmado com o sucesso culinário-amoroso, ele publicou a receita em um jornal local debaixo do título: “Per mia Giana”.
Francamente.
Nós não acreditamos nisso, não é, suspicaz leitor?
No que acreditamos é no seguinte: o bife à parmegiana é uma invenção ítalo-brasileira. O que se deu foi que um imigrante italiano, morando provavelmente em São Paulo, derreteu queijo parmesão sobre os bifes e, assim, presto!, estava criado esse que é um dos mais deliciosos pratos com carne da história humana. Mais uma de nossas glórias.
Temos nós essa capacidade de improviso e de melhorar o que já é bom. O churrasco gaúcho, feito no espeto, é melhor do que a parrilla uruguaia ou a argentina. A nossa pizza, de cobertura generosa e suculenta, é mais saborosa do que as lâminas finíssimas e quase secas servidas em Roma. O cachorro-quente do Rosário bate qualquer hot dog de Nova York. Nosso futebol é mais habilidoso e vencedor do que o inglês.
Se em tantas coisas nós pegamos o que o Primeiro Mundo faz e aperfeiçoamos, por que na política nós pegamos e fazemos pior? Monarquia e República, presidencialismo e parlamentarismo, por que nada funciona, quando aplicado no Brasil? Talvez, neste caso, nós tenhamos que copiar a receita deles sem invenções. Tipo: respeito às leis, punição dura para os infratores, investimento em educação. Não sejamos criativos em política. Nada de improvisos. Quem sabe, assim, teremos um governo à brasileira que mate essa nossa fome antiga.