Com o inexorável passar do tempo, Bolsonaro vai se acostumando com a Presidência. O que não significa que tenha compreendido o que é ser presidente do Brasil. Não compreendeu ainda, mas sente-se mais confortável na função e, por isso, está mais confiante. E mais propenso a falar o que pensa.
Eis o problema.
Bolsonaro sempre foi um homem com baixa capacidade de filtragem de opiniões. O que lhe vem à cabeça rapidamente desce para a boca, sem grandes obstáculos. Talvez seja ele também um fruto das redes sociais, que estão sempre solicitando o nosso alvitre sobre tudo.
Vá saber.
O fato é que Bolsonaro está falando sem parar, e isso tem sido uma experiência assustadora para quem ouve. Nos últimos dias, foi como se estivéssemos em um tiroteio. Bolsonaro nos metralhou com disparates verbais sem descanso. Foi bala vindo de todas as direções, impossível não ser atingido por uma: filmes como Bruna Surfistinha não devem ter financiamento por causa da família brasileira, governadores do Nordeste são “paraíbas”, não existe fome no Brasil, Miriam Leitão não foi torturada, a questão ambiental é para veganos que só comem vegetais, a recusa a responder sobre a carona para parentes na aeronave da FAB, a defesa do trabalho infantil, não deveria ser exigido exame na concessão de carteira de motorista e, finalmente, Glenn Greenwald “pode pegar uma cana”.
Meu Deus!
Por favor, não me chame de petista só porque estou apavorado com esse espancamento opinativo. Sei que Bolsonaro se justifica por ser oposição eterna ao PT e que, quando alguém o critica, o argumento sempre é a lembrança de algo que Lula fez. Tipo: “Ah, você está falando que ele persegue o Greenwald, mas o Lula também quis expulsar um jornalista americano do Brasil”. É verdade. O Lula fez muita coisa errada. Mas não é com o Lula que devemos nos preocupar agora. Lula está preso.
Já Bolsonaro governará por mais três anos e meio. O risco de que ele passe a fazer as coisas que diz é enorme. O que pode nos salvar?
Eu sei o que pode nos salvar.
O próprio Bolsonaro mostrou o caminho. Basta se perguntar: qual é a melhor área do governo?
Resposta: é a economia.
Você pode não concordar com a pauta liberal de Guedes, mas ele sabe o que está fazendo, ele entende do assunto, e sua receita, ao fim e ao cabo, tem chance de dar certo.
Vem então a segunda pergunta: por que esse setor do governo funciona?
Bolsonaro, portanto, é um ignorante, o que jamais será um mérito, mas também não é nenhuma falha de caráter. Ninguém sabe tudo sobre tudo.
Segunda resposta: porque Bolsonaro admitiu que não sabe nada de economia. Ele reconheceu a sua ignorância e fez o correto: cercou-se de quem sabe.
É isso que Bolsonaro precisa entender: a sua própria ignorância. Sua profunda, sua imensa ignorância.
Compreenda que não estou ofendendo Bolsonaro. Estou compreendendo que ele tem preconceitos porque não conhece acerca do que fala. Não é por maldade, é por desconhecimento. Ele não conhece a questão ambiental, ele não conhece a história de Miriam Leitão, ele não conhece os estudos mundiais sobre segurança no trânsito, ele não conhece muita coisa.
Bolsonaro, portanto, é um ignorante, o que jamais será um mérito, mas também não é nenhuma falha de caráter. Ninguém sabe tudo sobre tudo. Mesmo a pessoa que sabe muito sobre muito sabe pouco. Donde a necessidade de mais calar do que falar. E de se consultar com quem sabe. Isso seria mais do que prudência; seria inteligência. Seria se espelhar em um dos homens mais sábios da história do mundo, o velho moscardo Sócrates, que vivia a repetir: “Eu só sei que nada sei”.