"Existe uma grande excitação a respeito da condenação do Danilo Gentili, por causa de uma resposta que ele deu à Maria do Rosário, talvez as pessoas não se lembrem. A Maria do Rosário mandou uma notificação da câmara, ele pegou a notificação e amassou, rasgou, esfregou nas partes íntimas e mandou de volta para ela. E aí as pessoas estão dizendo, “ah, que loucura! Isso aí é uma ditadura! Condenado a seis meses de prisão no semi-aberto.” Eu quero dizer o seguinte: eu já fui condenado por essa mesma pena aí! Eu estou dizendo porque não é uma coisa que seja extraordinária.
Eu escrevi o meu primeiro livro e foi um livro sobre o Caso Daudt. Eu escrevi há 20, 25, quase 30 anos. E esse livro, na verdade, é o relato do que aconteceu com o Dexheimer durante os dois anos, oitocentas noites, oitocentos dias, em que ele foi acusado pelo assassinato do Daudt até ele ser absolvido pelo pleno do Tribunal de Justiça. É a história dele. Neste caso, eu fui a Ijuí, entrevistei e escrevi. Antes disso, quando eu li que Dexheimer não ia mais escrever a sua história, eu pedi demissão do jornal que eu trabalhava NA HORA. Aquela coisa da juventude, quando o cara é irresponsável, pedi demissão e liguei para Dexheimer dizendo “estou indo aí para fazer uma entrevista contigo, para fazer o livro” e ele “não, não… peraí” e eu segui “tô indo aí!”. Peguei o ônibus, fui para Erechim, fiquei num hotelzinho lá, num hotelzinho de caixeiros viajantes e fiz a entrevista com ele, fiz com Lia Pires, com outras pessoas, assisti a todo o julgamento de novo, 42 horas, li as 3 mil páginas do processo e escrevi o livro em 40 dias com uma máquina Olivetti Lettera 35 com a fita estragada, eu tinha que voltar ela com o dedo. E adorei fazer isso! E fui condenado! O Dexheimer, nesse livro, nesse relato, ele xinga um ex-assessor do Daudt, e esse ex-assessor processou a mim e a ele e, apesar de ele ter admitido que disse, ter gravações inclusive, eu fui condenado.
Não questiono a Justiça por que ela condenou, mas foram seis meses também, a mesma coisa que o Danilo Gentili. Como era réu primário, eu tinha direito a sursis, aí eu prestei serviços à comunidade, como se diz. Então, quer dizer que, não é uma coisa de exceção, não é uma pena de exceção, eu digo isso porque eu mesmo experimentei isso. É uma pena que está prevista dentro da lei brasileira."
Ouça abaixo a íntegra do comentário de David Coimbra no programa Timeline: