Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil, dizia Saint-Hilaire.
A saúva não acabou. O Brasil parece acabado, acossado por outras ameaças, menos tangíveis e muito mais insidiosas.
Ou o Brasil acaba com a impunidade, ou a impunidade acaba com o Brasil.
A impunidade é uma das causas da violência urbana e foi uma das causas dos desastres de Mariana e de Brumadinho.
Um país educado sabe que existem valores universais. Sabe que o respeito às mulheres, aos negros e aos homossexuais não são causas da esquerda. São causas da humanidade.
Como foi possível Brumadinho acontecer, depois de ter acontecido Mariana? Foi possível porque, com Mariana, houve impunidade. Se os culpados por Mariana tivessem sido responsabilizados, os responsáveis por Brumadinho não teriam sido negligentes e não se tornariam culpados.
Ou o Brasil acaba com a negligência, ou a negligência acaba com o Brasil. Foi por negligência que mais de 200 jovens morreram no incêndio da boate Kiss, há seis anos e um dia, e é por negligência que brasileiros morrem todos os dias no trânsito, nos corredores de hospitais, em tiroteios no meio da rua, soterrados pela lama tóxica de barragens malcuidadas.
Para acabar com a negligência, já sabemos, é preciso acabar com a impunidade, porque a punição serve de exemplo e evita a repetição de erros. Mas, a priori, a negligência tem de ser combatida com educação.
Um país educado sabe que existem valores universais. Sabe que o respeito às mulheres, aos negros e aos homossexuais não são causas da esquerda. São causas da humanidade. Sabe que exageros politicamente corretos são exatamente isso: exageros.
Um país educado sabe que os direitos humanos são direitos dos… humanos, não de bandidos.
Um país educado sabe que a proteção ao meio ambiente é fundamental inclusive para a riqueza da sua população. Sabe que a preservação da Amazônia, por exemplo, é essencial para o regime de chuvas, que, por sua vez, é essencial para a agricultura. Sabe que a fiscalização ambiental evita tragédias como as de Mariana e Brumadinho.
Bolsonaro, neste seu primeiro mês na Presidência, fez manifestações que preocuparam ambientalistas do mundo inteiro. Talvez a desgraça de Brumadinho seja-lhe útil, afinal. Talvez lhe mostre que cuidar do ambiente é uma dessas causas universais que têm de ser encaradas com seriedade.
Pelo menos o governo se assustou com o que houve em Minas. E reagiu rápido e bem, graças, sobretudo, à mobilização dos militares do primeiro escalão, treinados que eles são na gestão de crises.
Por enquanto, o governo está fazendo o que pode para atenuar os efeitos da catástrofe de Brumadinho. Se, além disso, realizar uma reflexão a respeito, entenderá que algumas bandeiras não são de direita nem de esquerda: são de todos. O governo pode aprender com Brumadinho. Pode crescer e se suavizar na dor. Pode controlar eventuais arroubos sectários de alguns de seus integrantes. Porque, hoje, mais do que a impunidade, a negligência, a falta de educação ou a saúva, nosso problema é o sectarismo. Ou o Brasil acaba com o sectarismo, ou o sectarismo acaba com o Brasil.