Teve gente que chorou ao ver o filme Roma, fiquei sabendo. Não chorei. Gostei, é bom e tal, mas nem acho que valha cinco estrelas. Quando muito, quatro e uma pontinha.
No fim dos anos 70 é que foi lançado o filme que mais fez chorar em toda a história do cinema. Foi O Campeão, com Faye Dunaway, Jon Voight e Ricky Schroder, na época um gurizinho loirinho bonitinho. As pessoas iam assistir a esse filme e voltavam contando como tinham chorado, que não havia como não chorar, que 100% da plateia chorava.
Bem. Decidi ir ao cinema para ver esse filme tão triste. Só que o seguinte: fui resolvido a não chorar. Eles saberiam como se comporta um cara do IAPI.
Amigos entendem o poder que algumas músicas têm sobre seus amigos.
Pois fui, e fui preparado, com o coração rijo de pedra e o olhar sarcástico do homem que preza o intelecto acima da emoção.
Jesus Cristo, como chorei. Chorei de molhar a gola da camisa, chorei de sair do cinema vermelho e fungando, chorei como uma normalista.
Hoje, suponho que choraria ainda mais. É que agora sou pai e a paternidade me amolentou aquela antiga têmpera de aço.
O pessoal tem mania de fazer desafios. Mas são uns desafios mamão com açúcar, como diria o Guerrinha. Coisas que qualquer um faz. Vamos ver se você consegue assistir a O Campeão sem chorar. Vamos ver se você é mesmo durão.
Aliás, aí está algo que me intriga a respeito de mim mesmo. Como sou tão influenciável a certas manifestações artísticas? Música, por exemplo. Toca uma balada romântica, digamos, Pra te Lembrar, do grande Nei Lisboa, e me sinto suavemente triste, um amante abandonado que vaga sozinho pelo mundo. Agora, se rola um som meio rock, meio blues, cheio de balanço de gato vadio, tipo Waiting on a Friend, dos Stones, sabe o que acontece comigo? É uma vergonha, mas confesso: faço biquinho.
Cara, é irresistível. Esse tipo de música me dá uma compulsão de fazer biquinho. Por que, meu Deus? Por quê???
Na Olimpíada de 2012, em Londres, marquei com o Tulio Milman e o Piangers de nos encontrarmos, depois do trabalho, em um pub que havia perto do nosso hotel. Cheguei antes, pedi um pint e me encostei em um pilar perto da banda que executava umas músicas nacionais. De repente, os caras começaram:
“Watching girls passing by, it ain’t the latest thing
I’m just standing in a doorway
I’m just trying to make some sense
Out of these girls passing by, the tales they tell of men”.
Estava esperando pelos meus amigos e eles mandaram ver um Waiting on a Friend! Aquilo mexeu comigo, man! Quando o Piangers e o Tulio chegaram, eu me balançava, com o copo de cerveja na mão e, por mil chapéus da rainha!, fazia biquinho. Eles olharam e riram. Não comentaram nada, porque são amigos. Amigos entendem o poder que algumas músicas têm sobre seus amigos.