Bolsonaro gosta de pão com leite condensado. Essa informação causou grande surpresa no eixo Rio-São Paulo, jornais fizeram matéria a respeito e uma padaria carioca lançou o Pão do Capitão, que se tornou sucesso de vendas. Aí quem ficou surpreso fui eu: os caras não conheciam pão com leite condensado! É uma iguaria tão deliciosa quanto singela, pelo menos de Joinville para baixo. Quem aí nunca se lambuzou com pão com leite condensado? O problema é que engorda. Eu, quando trabalhava em meu primeiro livro, sobre o Caso Daudt, passei 40 dias diante de uma máquina datilográfica Olivetti Lettera 35, escrevendo furiosamente de manhã, à tarde e à noite na mesa da cozinha da minha mãe, no IAPI. Durante todo esse tempo, minha dieta básica foi pão com leite condensado e café preto.
Deu certo: concluí 200 páginas. E engordei cinco quilos.
Pelo que leio e ouço, parece que o dilúvio já chegou e não há arca que possa nos salvar.
Agora, se você detesta o Bolsonaro, se postou #EleNão no Facebook e chamou seus eleitores de fascistas, você certamente está dizendo argh para o pão com leite condensado. Não bastará alegar que engorda, como eu aqui bem sei; você dirá que é vulgar, que é nojento, que é comida da elite branca, misógina e homofóbica.
Esse é um drama brasileiro que vem ocorrendo desde 2014: depois de uma eleição, as pessoas que perderam não se tornam oposição, tornam-se do contra. A ideia não é fiscalizar o vencedor e apontar o que está sendo feito de errado, papel da oposição em qualquer democracia saudável. A ideia é opor-se sistematicamente a tudo o que o vencedor fizer e sabotá-lo para que nada dê certo. Como dizia Luís XV, "depois de mim, o dilúvio". Pouco importa o país se não é o meu grupo que está governando.
Talvez até houvesse alguma justificativa para esse comportamento no caso de Dilma, porque ela estava em seu segundo mandato e o PT no quarto, a Lava-Jato já explodira e milhões de brasileiros tinham saído às ruas em protestos contra o governo. A inconformidade, portanto, era natural, porque a situação estava posta – todo mundo sabia o que esperar dos governantes, fazia 12 anos que se repoltreavam no poder.
Hoje, a situação é diferente. Houve uma eleição legítima, e as campanhas feitas contra Bolsonaro movimentaram grande parte da sociedade. Muitos (eu, inclusive) divulgaram publicamente que não queriam Bolsonaro presidente. Muitos saíram às ruas gritando que preferiam qualquer outro, menos ele.
O povo, esse que está na boca de tantos demagogos, esse que tantos juram amar e prometem defender, o povo escolheu maciçamente Bolsonaro como presidente da República. É a vontade do povo.
Bolsonaro ainda não começou a governar. Ainda está definindo sua equipe de trabalho. Os definidos, até agora, são ótimos. As declarações de Bolsonaro, até agora, são sensatas. Até agora, nada aconteceu que seja de fato reprovável ou realmente preocupante. Mas, pelo que leio e ouço, parece que o dilúvio esperado por Luís XV já chegou e não há arca que possa nos salvar.
Não é uma oposição inteligente, porque não é contra Bolsonaro: é contra o país. E nem sequer é uma oposição confiável, porque, a priori, ela será contra qualquer ideia, qualquer proposta, qualquer projeto, mesmo que positivo. Prova disso? Pão com leite condensado. Engorda, está certo. Mas que é bom, é.