A minha jaqueta preta, uma ótima jaqueta preta, bem quentinha, eu a tiro do roupeiro todos os anos nesta data, exatamente hoje, dia do Halloween. É quando começa a temporada de dias frios por aqui. Não é inverno ainda, mas a temperatura cai e fica lá embaixo por seis meses. Durante todo esse tempo, se estou na rua, estou dentro da minha jaqueta preta. O inverno pode se tornar bastante monótono.
Se Bolsonaro quer mesmo governar para todos, precisa dar o exemplo pelos seus. O Brasil precisa de paz.
Nos dias em que há tempestade de neve e você não pode sair de casa, há ainda o risco de cabin fever. Em tradução literal, cabin fever seria "febre da cabana", uma espécie de loucura temporária que dá na pessoa quando ela fica presa em algum lugar por mais de dois dias. Para quem acha que está com esse troço, a prefeitura de Boston disponibiliza psicólogos que vão até a casa da pessoa para conversar e acalmá-la.
Um dos três maiores filmes de terror de todos os tempos, O Iluminado, é, de certa forma, sobre umacabin fever radical. O personagem de Jack Nicholson fica confinado com a mulher e o filho em um grande hotel nas montanhas durante o inverno e se transforma em assassino.
Eu, quando começam os dias frios, sempre penso no Brasil. Porque aí, no lado de baixo do Equador, ocorre o oposto: o sol chega e os dias se tornam azuis e amarelos, as mulheres vestem minissaias sumárias e, no fim da tarde, às vezes olham para o vazio e suspiram comprido e têm pensamentos misteriosos, talvez inconfessáveis, e, durante as noites mornas, a gente sente preguiça e toma chopes cremosos com os amigos e dá risada… Ah, no verão, a vida não é mais feita de pontos de exclamação, só de reticências…
Lembro dos tempos daquele slogan "Sol, sal, sul, Imcosul". A Imcosul era uma loja de departamentos que patrocinava a cobertura de verão da TV e dos jornais. As pessoas se mudavam para o Litoral durante três meses, e a Zero Hora publicava alentados cadernos de praia, contando como a vida era mais excitante à beira-mar. Eu escrevia nesses cadernos. Uma vez, eu e o Fraga inventamos histórias em quadrinhos da deliciosa personagem Jô e lançamos o concurso Jô da Praia, com as mais belas garotas da orla. Tudo muito ameno, tudo muito bom, nos verões do Brasil.
Mas, agora, dizem que não é mais assim. Os brasileiros andam brabos por causa de política e, nossa!, como são brabos os brasileiros! Fiquei sabendo de coisas bem feias cometidas pelos dois lados dessa Guerra Fria cabocla. É como se o clima político fizesse com que todos fôssemos acometidos de uma estranha cabin fever tropical. Nós não éramos assim!
Mas chegou um momento em que não adianta mais apontar quem começou ou quem é o culpado. Chegou o momento de ceder. As pessoas precisam calar mais do que falar. Mesmo que você tenha razão, não diga nada. Por favor!
Só há uma pessoa que tem de vir a público e se manifestar claramente: o vencedor. O papel de Bolsonaro, neste momento, é apaziguar os espíritos. Ele deve fazer com que seus apoiadores deixem de provocar, deixem de responder, deixem de reagir. Se Bolsonaro quer mesmo governar para todos, precisa dar o exemplo pelos seus. O Brasil precisa de paz. Precisa de um verão em que a vida aconteça devagar, em que o ritmo seja do mar que vai e vem, em que o olhar enigmático das mulheres e o gol em impedimento sejam as únicas fontes de discussão na mesa do bar.