Tenho acompanhado com atenção as férias da Bruna Marquezine e da Marina Ruy Barbosa. Ambas foram para a Grécia. Mykonos e tudo mais. Em todo lugar por onde fincaram seus pezinhos número 35, tiraram fotos. E postaram nas redes. São fotos que engrandecem a nossa espécie – refiro-me ao Homo sapiens. Você olha para uma das duas com aquela paisagem ao fundo e pensa: demos certo.
Claro, qualquer gaiato pode lembrar que o Pedro Ernesto Denardin e a Marina Ruy Barbosa fazem parte da mesma espécie, mas prefiro nivelar por cima. Ou seja: pela Marina.
Voltemos a amar quem somos. Ninguém mais fará isso por nós.
Outra coisa que você pensa, ao admirar Bruna e Marina de biquíni diante do mar azul que um dia foi singrado por Odisseu, é que elas são pessoas com elevada autoestima. Só alguém que gosta muito de si mesmo se mostra tanto para tanta gente.
É essa uma das mais poderosas lógicas das redes sociais. As pessoas não querem apenas se comunicar com outras pessoas; elas querem exibir sua felicidade. Já ouvi e li inúmeras críticas a tamanha exaltação de si mesmo, mas, na verdade, isso acaba sendo positivo. Pelo seguinte: os outros não gostam de quem não gosta de si próprio.
Faz sentido: ninguém conhece mais você do que você. Você está a par de praticamente toda a sua história, sabe quais são suas fraquezas e eventuais fortalezas. Logo, se você não gosta de quem é, provavelmente tem razão, até porque conta com informação privilegiada sobre o assunto.
A opinião que você tem acerca de si é tão importante, que pode modificar a realidade. É o princípio da propaganda: o produto é medíocre, mas a publicidade é ótima. Assim, acossados pela publicidade, logo todos estarão acreditando que o produto também é ótimo e, depois de firmado o conceito, só um erro estratégico muito grave será capaz de abalá-lo.
Digo tudo isso por causa do Rio Grande do Sul. Nós, que sempre fomos saudavelmente exibidos, andamos agora cabisbaixos e macambúzios como uma vírgula. Os velhos cronistas diriam que estamos arrastando nossa melancolia pelo pampa. E até há razões para tanto, a começar pela contrapropaganda que fazem nossos governantes, que só repetem que estamos falidos, que eles não veem saída, que não há solução. Pior: rodamos nossos carros por vias que parecem a superfície da lua, mendigos privatizaram áreas públicas e, em algumas ruas, vemos cartazes colados nos postes que advertem: "Cuidado: área de assalto!".
Área de assalto! Porto Alegre tem áreas oficiais de assalto!
Essa situação é realmente depressiva. Só que a solução não é autodepreciar-se. Ao contrário. Olhe para Marina Ruy Barbosa em toda a sua ruivice. Não parece, mas ela tem defeitos. Geniosa, talvez? Mandona? Fala demais de manhã cedo? Não vai ao cinema se não for para ver filmes de amor? E certamente se trata de uma mulher cara. Não se contentaria com férias no Imbé, tem de ser de Mykonos para cima. Mas ela não vai destacar essa parte. Nada disso aparecerá nas redes. O que sai é aquela foto em que ela está tomando banho de sol seminua, sentada num confortável sofá ao ar livre, os olhinhos fechados, um sorriso mínimo de satisfação. É essa imagem que nos faz ter certeza de que Marina se ama. E que nos diz para amá-la também. Amemos todos Marina. E voltemos a amar quem somos. Ninguém mais fará isso por nós.