Em abril do ano passado, fui procurado, em Boston, por um empresário chamado Leonardo Fração. Não o conhecia. Um amigo em comum disse que ele queria conversar comigo e marcamos encontro no restaurante de um hotel perto da minha casa.
Ele temia por sua família e seus amigos, o que, aliás, o iguala a todos os porto-alegrenses que conheço. O que o diferenciava é que ele pretendia fazer algo a respeito.
Esperava um senhor já entrado em anos, mas deparei com um homem jovem, estuante de energia. Nossa conversa foi objetiva, ao estilo norte-americano. Em breves minutos, Leonardo contou que vivia em Porto Alegre, gostava de viver em Porto Alegre e queria continuar vivendo em Porto Alegre. Com um porém – a situação da segurança pública o incomodava. Ele temia por sua família e seus amigos, o que, aliás, o iguala a todos os porto-alegrenses que conheço. O que o diferenciava é que ele pretendia fazer algo a respeito.
Os planos de Leonardo começavam a se formatar, por isso viera falar comigo. Queria ouvir opiniões, sugestões, talvez até advertências.
Bem, questões de segurança pública, todos sabemos, são complexas. Envolvem muitos outros setores da sociedade, como o da educação. Mas seria preciso começar por algum lugar, e Leonardo estava ansioso para começar logo. Escolheu auxiliar na contenção e na repressão ao crime. Saiu de Boston disposto a mobilizar parte da sociedade a fim de melhorar as condições da polícia gaúcha. Formou uma equipe de trabalho com três parceiros: Cláudio Goldsztein, Vitor Scheid e Carlos Eduardo Vianna. Os quatro convenceram outras 50 personalidades gaúchas a fazer doações para o projeto e acertaram com o governo como direcionar o que conseguissem. Alcançaram um montante de R$ 14 milhões, mas não repassaram o dinheiro: foram, eles mesmos, negociar com fornecedores e fechar os negócios. Vou listar abaixo o que já adquiriram para as forças de segurança do Rio Grande do Sul:
- 46 Pajeros com kit antivandalismo;
- 2 Sprinters de choque para transporte de tropas;
- 1.441 pistolas Glock;
- 46 fuzis Armalite 7.62;
- 60 fuzis Taurus 5.56;
- Centenas de rastreadores para os carros;
- Coletes à prova de balas;
- Sistema de rádio integrado ao GOE;
- Uniformes 5.11 para GOE e Gate.
Para garantir que esse tipo de ação não se torne meramente pontual, o grupo ajudou a conceber um projeto que cria uma lei de incentivo à segurança pública e à educação. O projeto está sendo encaminhado a votação na Assembleia e, se não enfrentar os habituais boicotes de opositores, deverá ser aprovado nos próximos dias.
Todo esse movimento partiu da sociedade civil em direção ao poder público. É a comunidade se organizando para resolver os seus problemas. Em vez de o cidadão ficar se queixando do Estado, esperando que algum iluminado faça algo para ajudá-lo, ele vai lá, se mobiliza e faz ele mesmo, com suas próprias mãos. Mais ainda: é ele quem socorre o Estado, e não o contrário.
Esse pequeno grupo de voluntários atua na segurança, mas ações do gênero podem ser exercidas na educação, na saúde, em todos os setores da vida pública. É algo que pode mudar a comunidade estruturalmente. Do que falarei mais amanhã.