Você já se relacionou com mulheres que receberam muito amor do pai? Elas têm uma confiança. Aquela carga de amor paterno lhes deu segurança para o resto da vida. Criou-lhes um padrão na alma. Talvez ela não seja a melhor mulher para você, talvez você até a considere uma chata, porque ela pode ser irritantemente exigente. Mas ela terá armas para enfrentar as vicissitudes da existência. Ela se achará indestrutível. E, de fato, é.
É esse suplemento de amor familiar que dá às pessoas a capacidade de encarar com leveza os desafios.
Esses jovens que estão disputando a Copa do Mundo. Em geral, eles foram amados, quando meninos. Pela mãe. Ou pelo pai. Ou, o melhor, por ambos. Pode investigar a vida de cada um deles. Em quase todos os casos, você encontrará pobreza, às vezes encontrará miséria. Você encontrará dificuldades do tamanho da Rússia. Você encontrará perdas. Mas também encontrará amor. Graças a isso eles estão aqui. Por isso, já são vencedores.
A Seleção Brasileira diz muito sobre o Brasil. Porque a Seleção Brasileira é o Brasil que dá certo. Ela tem de ser observada, para que possamos entender um pouco do que somos, e o que poderemos ser.
Olhe mais uma vez para eles. Você verá que não é preciso ter família rica ou remediada para vencer.
Agora, olhe para os outros meninos do Brasil. Olhe para uma favela do Rio, para uma vila pobre de Porto Alegre, para os barracos da periferia das grandes cidades. Olhe. Você não verá homens adultos por lá. Não, pelo menos, homens adultos que sejam pais de verdade. As crianças das favelas e das vilas são criadas sem o pai. Ou, pior, são criadas sob o tacão de um pai abusador, bêbado, drogado, violento, sempre violento. Muitas mães tentam preencher essa falta. Poucas conseguem. Porque precisam trabalhar demais, porque as escolas públicas são deficientes, porque o ambiente conspira para entortar o que elas querem que seja reto.
Uma criança que cresceu assim, sem referência de amor familiar, não tem estrutura para suportar certo tipo de pressão. Por exemplo: a pressão de ser jogador profissional em um grande clube de futebol.
Ponha-se, por um minuto, no lugar de um menino que se tornou jogador. Qual é a sua profissão? Digamos, dentista. Imagine você obturando um pré-molar sob assistência de 45 mil pessoas que gritam sem parar, xingam se você exagera na quantidade da massa, murmuram em desaprovação se você coloca o sugador e pedem, em coro:
— Anestesia! Anestesia! Bota anestesia, burro!
Depois de feito o trabalho, sua atuação recebe nota e avaliação da imprensa e os comentaristas odontológicos discutem se você fez certo ou errado.
Que tal?
O jogador de futebol passa por isso semanalmente.
Numa Copa do Mundo, essa pressão se eleva à enésima potência. Porque ele não é mais observado, avaliado e discutido por milhares, e sim por milhões. Às vezes, bilhões. Pense nisso: o seu trabalho, a sua personalidade e o seu comportamento sob exame de bilhões de seres humanos no mundo inteiro. Quem tem realmente têmpera de aço para suportar tanto peso?
Só os melhores. Só aqueles que são especiais. Os que somam força a resistência e a resiliência. Só os que confiam muito em si mesmos. Os que, um dia, quando meninos, foram suficientemente amados pelos pais.
Olhe para eles. Olhe para o Brasil. O que eles têm de sobra, o que os torna vencedores, é o que falta ao Brasil: o zelo, o cuidado. O amor.