Anotação para o futuro: 2019 foi o ano em que os podcasts me pegaram pela orelha.
Há pelo menos três anos venho acompanhando um ou outro programa sobre assuntos que me interessam, mas só agora o hábito de escutar podcasts todos os dias passou a fazer parte da minha rotina. Já são uns quantos os que assino no meu tocador (costumo usar o Spotify, mas há outros). No canal local Mínima Podcast, venho ouvindo gente bacana de Porto Alegre (como Roger Lerina, no Cinema Falado, e Diana Corso, no Precisamos Falar). Dos nacionais, não perco o Foro de Teresina (mesa-redonda semanal sobre política). Para quem entende inglês, o cardápio torna-se virtualmente infinito. Entre os meus favoritos nestes dias estão The Ezra Klein Show (sobre assuntos contemporâneos que vão de meditação à política internacional), The Daily (noticiário do New York Times), Land of Giants (sobre as grandes corporações tecnológicas) e In Our Time: Culture (da BBC 4). A moedinha número 1, em 2016, foi o excelente Un Été Avec Proust (da France Inter).
A audiência dos podcasts explodiu nos Estados Unidos, a partir de 2014, com a estreia da série This American Life, que narra histórias policiais de forma seriada. O termo já existia desde 2005, criado pela Apple a partir da junção das palavras "iPod" (o iPhone ainda não existia) e "broadcast" (transmissão). A ideia era poder escutar seu programa favorito de rádio a qualquer hora, em qualquer lugar. Podcasts são relativamente baratos de produzir, o que permite que muita gente possa experimentar o formato sem grandes riscos. Isso fez com que a oferta de assuntos disparasse – assim como a audiência e em seguida os recursos da publicidade. No Brasil, o ritmo de produção de conteúdo nesse formato vem se acelerando nos últimos meses. Segundo pesquisa do Ibope divulgada em maio, dos cerca de 120 milhões de usuários de internet do país, 40% já ouviram um podcast e 32% ainda não sabem do que se trata.
Dos cerca de 120 milhões de usuários de internet do país, 40% já ouviram um podcast e 32% ainda não sabem do que se trata
Ouvir um programa em áudio mobiliza nossa atenção e nossa imaginação. (Minha filha de 21 anos, atualmente em seu primeiro emprego, costuma dizer que se não fossem os podcasts nenhum integrante da Geração Z conseguiria permanecer oito horas sentado em um escritório trabalhando...) Podcasts abastecem nossa necessidade de informação ao mesmo tempo em que se encaixa bem à rotina de quem se desloca para o trabalho, realiza as tarefas de casa ou corre numa esteira. Os programas são de graça, como o rádio, mas em alguns casos são tão bem produzidos e sofisticados como uma série da Netflix feita exclusivamente para os ouvidos.
Claro que os podcasts não são território exclusivo do senso crítico ou imunes ao cerco das fake news, mas é menos provável que o abobadão que espalha mentiras pelo WhatsApp encontre ouvintes fiéis dispostos a submeter-se regularmente a 30 minutos de bobajada ininterrupta. Podcasts, portanto, chegam em boa hora ao Brasil: nossos ouvidos nunca precisaram tanto do alento das vozes sensatas.