Meu mundo é hoje, diz uma linda canção de Paulinho da Viola. Outro artista da excepcional safra de 1942 (Tim Maia, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Paul McCartney, Jimi Hendrix...), Caetano Veloso disse algo parecido ao completar 77 anos, no início de agosto: "Eu sigo moleque. Eu sei que sou velho, mas estou curioso para experimentar a velhice. A verdade é que, se não houver muitas desvantagens, nunca se é velho: a pessoa que você é ainda é o que você tem sido".
Do nascimento até a morte, parece que somos sempre novos demais ou velhos demais para alguma coisa
Do nascimento até a morte, parece que somos sempre novos demais ou velhos demais para alguma coisa. Sem perceber, vamos nos movendo lentamente entre o que já está ao nosso alcance e o que ainda não está (ou não está mais). Caetano está certo: por dentro, nunca ficamos mais velhos do que sempre fomos, mas aos poucos percebemos que o que esperam de nós vai se tornando uma identidade emitida sem a nossa autorização. Olhamos a senhorinha que caminha com dificuldade na rua carregando uma sacola de compras e lamentamos a melancolia lenta da velhice, enquanto ela, distraída, talvez esteja fazendo planos para as próximas férias ou pensando em voltar a estudar. Observamos o jovem adulto com certa nostalgia de uma felicidade despreocupada sem lembrar que ninguém tem a distância ou a tranquilidade necessárias para sentir-se privilegiado no placar cronológico em qualquer época da vida.
Cada geração e, no limite, cada indivíduo vai explorando seus limites, empurrando para mais longe ou mais perto a borda das possibilidades em aberto a cada momento. Quem decide que é tarde demais para mudar de profissão, começar (ou voltar) a estudar, sair de um casamento infeliz, aprender um novo idioma, dar a volta ao mundo, se apaixonar, dançar no sábado à noite, subir ao palco? A melhor idade, essa expressão que a maioria das pessoas com mais de 60 anos considera cínica e quase ofensiva, se existe, é aquela em que estamos presentes no presente. Sem pressa demais para chegar ao futuro ou apego excessivo ao que ficou no passado. Nosso mundo é hoje.