Acostumada a trazer a público a sujeira escondida embaixo dos carpetes mais felpudos de Brasília, a repórter de política Thais Bilenky, do jornal Folha de S. Paulo, inverteu a pauta e escreveu na semana passada a respeito do lixo que repousa SOBRE os tapetes – no caso, os do Congresso Nacional, à vista e ao olfato de todos os transeuntes, sem conspirações ou metáforas envolvidas.
Embalagens de comida, garrafas vazias, papeis picados, calhamaços de estudos legislativos descartados (muitas vezes sem sequer terem sido abertos, imagino) e até palitos de dentes usados aguardam pacientemente — no chão, nos assentos, nas mesas — a coleta diária dos faxineiros. Como se os frequentadores daquela Casa estivessem tão absortos no esforço de votar pautas urgentes que mesmo o curto caminho que conduziria os dejetos até a lixeira mais próxima roubasse minutos preciosos de trabalho e concentração que nem o país nem eles estão dispostos a desperdiçar. Para que servem os faxineiros, afinal?
Os sobrecarregados funcionários da limpeza ouvidos pela repórter contam que a falta de modos é generalizada e parece se agravar a cada ano que passa. Mesmo lavados de seis em seis meses, os carpetes estão sempre manchados de bebidas – seja por inépcia no manuseio de recipientes cilíndricos, seja pela convicção de deputados e senadores de que a vocação natural de todo líquido represado é romper barreiras e lançar-se ao solo compartilhado por todos. Mas o pior de tudo, garantem os faxineiros, são os chicletes. No chão, embaixo das cadeiras, sob as mesas de votação, uma massa informe de goma ruminada espalha-se pelo Congresso com a voracidade (e a inteligência) de uma bancada capaz de decidir os rumos da nação. O chiclete grudado embaixo da mesa é o último refúgio do consenso nacional.
Nada que se encontre sobre ou embaixo dos tapetes de Brasília é motivo propriamente de espanto, mas há algo de melancólico na ideia de um Congresso Nacional emporcalhado por adultos incapazes de honrar o espaço público que ocupam com a dose infrabásica de civilidade representada por uma lixeira. O fundão da quinta série agradece a preferência