Difícil não é cruzar a fronteira dos "enta", começar a calcular o tempo (e o dinheiro) que falta para a aposentadoria ou encomendar uma festa de arromba para comemorar a chegada dos 80 com a certeza de que qualquer tipo de planejamento antecipado, nessa etapa da vida, exige a colaboração da sorte e das coronárias. Difícil mesmo é chegar aos 30.
Se você convive com gente que nasceu nos anos 1980 ou 1990 talvez já tenha presenciado algum tipo de crise de meia-idade precoce. No início, achava que era charminho para a torcida, mas aos poucos fui percebendo que havia algo de genuíno nessa ansiedade extemporânea. Isso porque, nos últimos anos, o amadurecimento deixou de ser associado a uma vantagem competitiva – mesmo para quem mal iniciou a carreira.
Hoje parece ficção científica, mas houve um tempo em que as pessoas se vestiam para parecer mais velhas porque eram os mais velhos que davam as cartas. Essa história começou a mudar a partir do final dos anos 1950, quando a juventude passou a ser um valor em si, e a marca da diferença dos pais deveria ficar explícita tanto nas roupas e nos cabelos quanto nas ideias.
Sou de uma geração que ainda assistiu, nos anos 1980, ao canto do cisne dos adultos como referência. Aos 20, eu olhava o colega de 40 como alguém que sabia mais do que eu e obviamente perceberia minha vasta ignorância sobre quase todos os assuntos se eu não me esforçasse para superá-la o mais rápido possível – embora nessa idade eu não me vestisse como adulta ou ouvisse música de adultos. Hoje, os de 20 e os de 40 podem ouvir as mesmas músicas e até vestir as mesmas roupas, mas os mais novos, em geral, veem os mais velhos como uma péssima versão do Google como ferramenta de transmissão de conhecimento.
Outro problema de chegar aos 30 nos dias de hoje é que o ritmo da obsolescência nunca esteve tão acelerado. Aos 29, o futuro trintão olha o colega de 19 como uma ameaça em potencial e não como alguém que ainda está em fase de formação. A tecnologia tende a ser uma amante volúvel, sempre mais disponível e sorridente para o mais jovem dando expediente na sala. (E o mais jovem, se tudo der certo, não ficará nessa posição por muito tempo.) Nesse aspecto, os 30 são os novos 50.
Em uma época em que nada parece sólido e permanente, ninguém fica confortável por muito tempo, e o estado de instabilidade é o novo normal. De um lado, garotos precocemente ansiosos. Do outro, adultos deslocados de suas funções culpando os mais jovens por todos seus infortúnios. Em paz ou às turras, estamos no mesmo barco – e o mar não está para peixe. Talvez fosse uma boa hora para começar a tornar o preconceito de idade tão deselegante e inapropriado quanto todos os outros tipos de preconceito.
Falando em preconceito de idade, Christopher Plummer, aos 88 anos, tornou-se o mais velho ator a ser indicado ao Oscar pelo papel de um personagem que tinha mais ou menos a idade dele – substituindo, na última hora, o proscrito Kevin Spacey, que tem 58, no filme Todo o Dinheiro do Mundo. Hoje ninguém acha normal um branco fazer papel de negro ou de oriental, mas ainda se chama um ator de 50 para fazer um homem de 80. Por mais grandes atores de todas as idades nas telas – e menos gastos inúteis com maquiagem.