Já presenciei arremesso de cadeira numa briga em estádio de futebol, num Gre-Nal dos anos 80, em que fui obrigado a correr para não ser guilhotinado por uma delas.
Já vi cadeira ser usada como escudo num fim de festa, também numa pancadaria em minha adolescência, numa balada na Zona Sul.
Mas jamais supus que assistiria a uma cadeirada em debate eleitoral. Ainda mais na principal capital brasileira. Ainda mais numa emissora educativa como a TV Cultura.
Era motivo para cancelar as eleições e começar tudo de novo.
Se não dá para subestimar a violência psicológica, tampouco há como igualar as ofensas verbais à violência física. O que aconteceu foi um atentado filmado, ao vivo.
Não se tratou de uma cusparada, de um tapa, de uma reação automática de defesa da honra, mas de uma cadeira jogada em cima de um dos candidatos. Poderia tê-lo matado.
Não importa a natureza da arma: se fosse o pedestal do microfone, se fosse um taco de beisebol, se fosse uma faca, se fosse um revólver. Representou uma tentativa de homicídio televisionada. E justamente por alguém que está acostumado com a telinha, que tem três décadas de apresentador, que comandou programas tensos como o Cidade Alerta e o Brasil Urgente e realizou entrevistas com integrantes das facções do crime organizado.
E se a barra da cadeira atingisse o crânio? Ou um ponto delicado das terminações nervosas, responsável pelos movimentos?
A cena tétrica era para tirar, além das crianças, os adultos da sala.
O polêmico Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, foi agredido por José Luiz Datena (PSDB) durante o debate da TV Cultura, na noite de domingo (15).
Marçal passou a madrugada desta segunda-feira (16) no Hospital Sírio Libanês, em observação. Segundo boletim médico, sofreu traumatismo na região do tórax e no punho.
A agressão ocorreu na réplica de Pablo Marçal a uma pergunta para Datena. O candidato do PRTB questionou o apresentador sobre quando ele pararia com a "palhaçada" e desistiria da candidatura. Antes, ele havia acusado Datena de assédio.
— Você não respondeu à pergunta. A gente quer saber. Você é um arregão. Você atravessou o debate esses dias para me dar tapa e falou que você queria ter feito. Você não é homem nem para fazer isso. Você não é homem — provocou Marçal.
Logo em seguida, veio a violência que viralizou pelo mundo e manchou a credibilidade de nosso processo eleitoral. Uma vez dentro do esgoto, não temos como culpabilizar os ratos e as baratas.
Talvez seja o caso de proibir a menção à vida pessoal nos enfrentamentos. Os postulantes ao Executivo de São Paulo deveriam se manter no plano de ideais e de projetos, sempre com respeito, sem apelidos, sempre com “o senhor” ou “a senhora” antecedendo a pergunta.
A aberração é a ausência de educação acumulada desde o início da campanha.
Quando acompanhei os debates dos prefeituráveis de Porto Alegre, confesso que achei a discussão morna, sem hostilidade, cada um falando no tempo estipulado, abordando assuntos de interesse comum, das filas dos hospitais ao transporte público, da proteção contra as cheias à segurança das ruas.
Não houve baixaria. Eu quero que o certame continue morno. “Morno” virou um elogio, sinônimo de “civilizado”.