A reconstrução de Porto Alegre e as responsabilidades sobre os danos ocorridos durante a enchente de maio dominaram o primeiro debate entre os pré-candidatos à prefeitura da Capital. Promovido pela Rádio Gaúcha na manhã desta terça-feira (6), após uma madrugada de chuva forte e incessante que caiu sobre a cidade, o encontro reuniu Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT), Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB).
Com duas horas de duração, o embate de ideias antecipou estratégias. Enquanto Rosário e Juliana miraram na gestão de Melo, Camozzato e o atual prefeito visaram a petista. Nos quatro blocos, eles centraram foco na proteção contra alagamentos, mas também discutiram temas como educação e transporte público.
Mediado pela jornalista Andressa Xavier, o debate ficou tenso já no primeiro bloco, quando os pré-candidatos respondiam a uma mesma pergunta elaborada pela produção da Gaúcha e depois escolhiam um adversário para aprofundar a discussão durante quatro minutos.
Questionada sobre seu plano para prevenção de cheias, Juliana disse que consultoria os técnicos da prefeitura e chamou Melo para o confronto, afirmando que ele não deu ouvidos aos alertas de especialistas sobre a intensidade das chuvas e não fez manutenção no sistema de proteção.
— Eu queria entender porque em nenhum momento tu não ouviu ninguém, por que não teve manutenção, não teve zelo? — disse Juliana.
— Esse sistema é da década de 1960, já passaram por lá 12 prefeitos. Eu sou o 13º. São narrativas ideológicas de que a razão da enchente foram duas casas de bombas — respondeu Melo.
Nos embates com Melo, por duas vezes Juliana citou denúncias de corrupção da Secretaria de Educação (Smed) e no Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).
— Diz que não tem dinheiro, mas tem para Ferrari, para desvio de verba pública na educação — provocou a pedetista.
Em direito de resposta concedido pelo programa, Melo disse que não acoberta ilegalidades e determinou a apuração das suspeitas.
— Quem primeiro investigou não foi o Dmae, não foi o Ministério Público. Fui eu — asseverou.
Em duas trocas de perguntas entre si, Juliana e Rosário responsabilizaram o prefeito pelos estragos causados à Capital. Adotando postura semelhante, Melo e Camozzato atribuíram as causas do desastre à falta de investimento do governo federal e defenderam medidas de liberdade econômica.
Escolhida por Camozzato para um embate direto, Rosário lembrou que o pré-candidato do Novo defendia a derrubada do Muro da Mauá.
— O muro aguentou, o que a cidade não aguenta mais é incompetência e discurso vazio — disse a petista.
— A senhora também defendia a derrubada do muro quando foi candidata em 2008. Esse sistema não funciona — afirmou Camozzato.
Quando voltaram a se enfrentar, os pré-candidatos do Novo e do PT debateram sobre democracia, citando as eleições na Venezuela e a tentativa de golpe ocorrida no Brasil em janeiro de 2023.
O segundo bloco — realizado no modelo tradicional, com pergunta, resposta, réplica e tréplica —, colocou duas vezes Melo e Rosário frente a frente. Eles discutiram melhorias no transporte coletivo, mas voltaram a elevar o tom ao tratar da enchente, com a deputada cobrando o prefeito mais uma vez.
— Na eleição de 2020, o senhor prometeu que ia resolver os alagamentos e não cumpriu. Agora responsabiliza ex-prefeitos e até moradores. O senhor assume a responsabilidade?
— Não estou buscando culpados, mas soluções. Sei onde eu estava quando caiu o primeiro pingo d'água, enquanto a senhora estava preocupada com politicagem, fazendo vídeo — reagiu Melo.
No terceiro bloco, moradores da Capital fizeram perguntas sobre saúde, transporte coletivo, urbanização do entorno da Arena e ampliação da rede de ensino na periferia. Camozzato defendeu a telemedicina, Rosário prometeu renovar a frota de ônibus, Juliana criticou o descaso do poder público com o bairro Humaitá e Melo citou investimentos realizados em sua gestão.
Em seguida, os questionamentos foram de comunicadores do Grupo RBS sobre programa de governo, educação, economia e a Região das Ilhas. Rosário citou a necessidade de uma cidade sustentável, com gestão do risco de um novo desastre ambiental. Camozzato defendeu parcerias com entidades privadas para melhorar a educação. Juliana apregoou concessão de crédito para microempresários e redução da burocracia. Melo disse que contratou especialistas holandeses para reurbanizar o Arquipélago.
Realizado em um estúdio da RBS TV, o debate teve na plateia nove assinantes de GZH que, durante os intervalos, comentavam suas impressões sobre as propostas apresentadas.
O encontro reuniu os postulantes cujos partidos e federações têm representação no Congresso Nacional. Dessa forma, não participaram Carlos Alan (PRTB), Fabiana Sanguiné (PSTU) e Luciano Schafer (UP).