Fracassamos todos: o triste episódio da agressão do candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, o apresentador José Luiz Datena ao influenciador Pablo Marçal (PRTB) traduz falhas que, por acúmulo, permitiram chegar a esse ponto.
Desde o início da campanha em São Paulo, ficou clara a agenda do candidato "antipolítica" da vez: agressões verbais subiram de tom até atingir o limite de um dos concorrentes.
Nada, absolutamente nada, justifica a agressão física. Mas a escalada do discurso de ódio, que produz engajamento nas redes sociais para além do que é pago, cobrou seu preço.
Enquanto a regulação das redes sociais dormita em alguma gaveta do Congresso, o discurso do ódio corrói a democracia e alimenta gigantes como Meta (Facebook, Instagram, What'sApp e Threads), YouTube, X e TikTok.
A coluna já mencionou estudo do respeitado Massachusetts Institute of Technology (MIT) segundo o qual uma informação falsa tem em média 70% mais de probabilidade de ser compartilhada do que uma notícia verdadeira, que consome seis vezes mais tempo do que as fake news para atingir meras 1,5 mil pessoas (veja as conclusões de 2018 clicando aqui).
Ainda segundo esse levantamento, o discurso de ódio engaja mais do que vídeo de gatinho. Desperta mais reações, de compartilhamentos a novas postagens. Ex-funcionários do Facebook expuseram que os algoritmos que regulam a disseminação das postagens alimentam conteúdos violentos para gerar mais engajamento (clique aqui para ler uma das mais recentes, de Frances Haugen em 2021).
Sem regulação nas redes sociais e com excesso de tolerância ao intolerável, a campanha eleitoral espelha uma arriscada elevação de tom na vida cotidiana. A regulação das redes sociais não é diferente do controle ao qual estão submetidas todas as demais atividades. Não é censura, é responsabilização. Como agora todos os envolvidos no absurdo episódio devem ser, tanto por agressão física quanto por agressão verbal.