Está chegando o Dia dos Pais: domingo, 11 de agosto. Não observo nenhuma movimentação nas lojas, nenhum tumulto nos shoppings, nenhuma correria nas araras, nenhum esboço de fila nos balcões.
Já testemunhou presente dos pais comprado com antecedência de duas semanas?
Não, né?
Até porque pai não recebe presente, mas lembrança.
É cueca, ou par de meias, ou cinto, ou caneca, ou garrafinha de água, ou pijama.
O conceito de lembrança vem sendo distorcido — lembrança deveria se dirigir a um parente distante, não a um pai, de presença constante.
A figura paterna está tão mal-acostumada que aceita qualquer coisa. Fica feliz de ser lembrada. Chora com seu nome num embrulho. É uma mendiga das datas comemorativas. Basta uma moedinha no boné, e festeja os trocados.
Às vezes, o cartão ou o desenho que o filho prepara na escola acaba sendo o único regalo. Sem ele, muitos pais não teriam o que ostentar. Passariam o final de semana com as mãos abanando.
O costume é nos empurrarem para a churrasqueira, num estereótipo de gaúcho.
Ganhamos com frequência avental de churrasco, ou espetos, ou grelha, ou faca. Jamais tudo junto, só um item por ano.
O máximo da generosidade filial é uma camiseta de futebol do clube do coração. Caso você consiga essa façanha, pode ter certeza de que atingiu o ápice da sua carreira doméstica, será o Dia dos Pais mais gordo da vida.
Alguém já foi surpreendido por uma caixa? Com máquina de café, ou PlayStation, ou terno, ou celular, ou AirPods, ou aparelho de ar-condicionado, ou adega climatizada de vinho?
Diga-me para causar inveja. Caixas significam vantagens. Sacolas não dão frio na barriga.
Nem cogito mesa de sinuca ou pebolim, algo que dependa da operação de um frete.
Não aparecerão entregadores na minha porta. Nada de televisão nova. Talvez, se houver boa vontade, um pacote do Campeonato Brasileiro.
Na maior parte dos casos, somos vítimas dos acessórios, de um amigo secreto na própria família.
A verdade é que nunca nos oferecem presentes caros. Com dois zeros, é uma raridade. Três zeros, então, nem pensar.
Ninguém na loja sente necessidade de parcelar o mimo de tão simbólico que é.
Não existe equiparação com o Dia das Mães. Não desfrutamos sequer do papel de coadjuvantes. Metade do orçamento destinado a elas serviria para nos deixar ricos e afortunados.
Dias das Mães é obrigação, Dia dos Pais é opcional, é se sobrar tempo, é caridade.
O mais grave é que os filhos nem recordam que o Dia dos Pais está próximo. Percebem atrasados no mesmo dia ou tarde demais no dia seguinte.
Vivemos uma progressiva desvalorização. No futuro, temo que o descaso nos leve à extinção da efeméride.
O comércio vai concluir que ela unicamente traz prejuízo. Será substituída pelo Dia do Irmão.
Pais são esquecidos. E não discutem sua importância, com medo de sofrer represálias no aniversário. Não pedem a merecida promoção, não reivindicam destaque. Escondem seus sentimentos numa aparência tolerante e resiliente.
Invente de não dar um presente a sua mãe para ver o que acontece.