Estão terminando as férias escolares. Escolas particulares já voltaram. Escolas estaduais e municipais retornam até 5 de agosto.
No período que se finda, amigos meus quase enlouqueceram conciliando a liberdade de filhos pequenos e a responsabilidade dos expedientes, o tempo vago dos rebentos e o tempo das suas incumbências profissionais. Não sobrou nada para o romance.
Famílias sem babá, sem apoio doméstico, sem avós por perto, experimentam um pandemônio.
Não reclamam diretamente porque é amor. Não confessam o horror porque os filhos são seus maiores tesouros.
Mas o casamento estremece, tem suas estruturas abaladas, com estranhas pressões mútuas, esquisitas rixas e esdrúxulas implicâncias.
A dinâmica do convívio muda drasticamente. Para pior.
Casal costuma ser composto por quem trabalha fora com emprego fixo e quem é autônomo e faz home office.
Daí vem o perigo. Aquela pessoa que fica em casa inventando ocupações, mirabolando passatempos, improvisando brincadeiras para as crianças, logo que vê a sua parceria chegar do serviço, esbraveja:
— Assuma!
Não a deixa tomar banho, não a deixa jantar, não a deixa se sentar no sofá, não a deixa assistir televisão, não a deixa respirar, só passa a tutela.
Não dá espaço para arrego ou um minutinho.
Com o comando seguinte, não resta dúvida:
— Os filhos também são seus!
Põe os pequenos no colo do seu cônjuge para negar o intervalo, para não aceitar desculpas, para não tolerar recreio.
É uma transferência imediata de bastão na porta. Porque o encarregado do lar não aguenta mais. Está a ponto de explodir de tanto que foi solicitado, de tanto que ouviu seu nome, de tanto que precisou fazer duas ou três tarefas simultâneas. Não podia atender telefone em paz, não podia fazer call em silêncio, não podia manter a sequência de um raciocínio por mais de quinze minutos.
O que acontece é uma tortura psicológica dentro do matrimônio.
Mesmo que o outro estivesse trabalhando fora, e dando tudo de si, quem permaneceu protegendo a prole quer que seu par sofra de noite o que sofreu ao longo do dia, que ponha sozinho a turma para jantar, fazer higiene e dormir, longe de qualquer cooperação.
É uma espécie de castigo inconsciente, uma vingança involuntária. Esposas castigam os maridos, maridos castigam as esposas. Não existem concessões terapêuticas, licenças psicanalíticas.
O romantismo, a gentileza, o respeito devem sobreviver às férias escolares.
Talvez os pais tenham que trocar seu software. A culpa não gera uma boa maternidade, uma boa paternidade. Eles não são obrigados a entreter os filhos, tampouco merecem uma sobrecarga por não contar com situação financeira privilegiada que possibilite descanso numa praia, num lugar paradisíaco.
É a hora de dividir a realidade mais do que se puxar pela imaginação para produzir conteúdo de recreação.
Permita que os filhos sintam tédio, permita que os filhos encontrem algo para brincar, permita que os filhos conheçam o poder do silêncio. Se não são bebês, eles se viram com o que há no quarto ou com os seus amigos.
Proteção em excesso só forma pessoas fracas.