Amor é paciência. Na ausência dela, nenhum obstáculo será superado, nenhuma adversidade será transposta, nenhuma diferença será acolhida.
Você deve respirar antes de discutir, deve pensar antes de opinar, deve rezar antes de explodir. A contagem mental é aliada das palavras.
Só que a paciência acaba quando o outro mete a sogra no meio.
Cada um tem a responsabilidade de cuidar dos problemas e idiossincrasias da sua própria família.
Uma das cenas mais irritantes da vida de casal é marido que não sabe se despedir da sua mãe no celular e repassa, de repente, a ligação para a esposa.
Atende à mãe, mas não termina o serviço. No meio do blá-blá-blá, mostra-se ansioso, aflito, culpado. Teme pela duração do interrogatório.
Não consegue pôr um ponto final na conversa. Anda desesperadamente pela casa, do quarto à sala, da cozinha à lavanderia, procurando uma saída. E a porta de emergência é sempre a sua mulher, que está por perto. Ele a percebe como uma muleta para se apoiar na maratona da manhã.
Não aprendeu até hoje a dizer “tchau” à mãe. Incompetente para cortar o assunto, constrangido para alertar que precisa sair e trabalhar, ele larga a bomba em quem está ao seu lado.
Com pura malandragem, mente para a esposa que a sua mãe deseja falar com ela e lhe passa a sogra. Nem pergunta se ela está disponível ou com boa vontade de comunicação naquela hora: passa adiante a sogra.
As duas não entendem direito o que aconteceu, paraquedistas empurradas do avião, e são obrigadas a inventar uma ponte, uma conexão, um ponto em comum, um jeito de pousar e não se arrebentar na queda.
Ele terceiriza a encrenca, as confissões, o relatório de incompreensões, a coleção de sintomas de algum mal-estar enigmático.
A impressão é que emprestou a mãe por um momento, porém ele deu a mãe de presente. Sequer vendeu a mãe, ele doou a mãe.
Desavisada, a esposa tem que atuar como mediadora, tradutora, como se não tivesse também as suas ocupações.
É um trote premeditado. No começo do papo, jura que é apenas um breve momento de cumprimento, de perguntar como está, de dar um recado, mas o marido some da vista, toma uma ducha e jamais pega o aparelho de volta.
Se a mãe alugava os ouvidos do filho, compra os ouvidos da nora, que se vê obrigada a ser educada e simpática no lugar do marmanjo.
É a maior sacanagem que pode existir no relacionamento.
Para aumentar a raiva, o marido pergunta, depois de um longo período desaparecido:
— O que ela queria?
Era o que faltava ainda pedir um resumo, uma sinopse para a sua canastrice.