A felicidade é como Wi-Fi.
Ao entrar num lugar, você se conecta à rede local ou mantém o seu 4G ou 5G. Não tem como acumular duas conexões ao mesmo tempo. Você precisa escolher uma só.
Vamos fazer um exercício. Lembre-se dos momentos felizes da sua vida.
Da vastidão da memória, pince uma, duas, três cenas alegres, em que você se sobressaia pleno, esperançoso, cheio de vigor.
Em todas elas, em qualquer uma das recordações que surgiram à tona, eu duvido que você estivesse fazendo duas coisas ao mesmo tempo. A felicidade é uma coisa de cada vez. É uma conexão de cada vez.
Ou namorava, ou bebia com os amigos, ou passeava, ou conversava bonito com alguém, ou dançava, ou cantava, ou corria na chuva, ou relaxava deitado num parque debaixo das árvores. Mas repare na minha descoberta: jamais empreendia duas tarefas.
A vida é isso: definir-se por uma conexão. Toda escolha da nossa existência depende da nossa capacidade de renúncia. Você somente valoriza o caminho a partir de tudo o que deixou para trás.
Tendo consciência do que recusou, capricha naquilo que possui. Não se mostra dividido entre o passado e o futuro.
Não existe jeito de ser contente na encruzilhada, na dúvida, no dilema, na indecisão sobre em qual rota voar no ninho de estradas.
Ficar fisicamente num local, com a cabeça noutro, fará com quem padeça da sensação turva de que vem perdendo uma experiência importante longe dali.
A infelicidade consiste em acumular opções. Pois você se apresentará pela metade em várias atividades — numa condição fragmentada, desatenta, distraída, inquieta — e não desfrutará da sua inteireza, da paz de viver o agora.
Felicidade não requer efeitos especiais, talvez seja exatamente não complicar a entrega, explorar o básico, sustentar o essencial.
Nos seus períodos de exultação, você verá que tão somente estava presente. Quanto mais presente, mais feliz era.
O interior e o exterior se comunicavam, interligados. O que acontecia na pele repercutia na alma: um beijo doce provocava o arrepio, um carinho na cabeça gerava um suspiro.
Afugentamos a angústia, espantamos o medo, quando nos determinamos por uma rede. E não mais sofremos com as hipóteses.
A simultaneidade é inimiga do acolhimento.
Traz dispersão, perda de foco, frustração e pressa. Você contará os minutos para terminar o que começou, num afobamento desprovido de comprometimento. Forasteiro de si mesmo, nunca se encontrará onde quer, onde deseja.
Somos monotemáticos. Equivocadamente, o mundo contemporâneo dos resultados imediatos e da eficácia a baixo custo tem nos levado na contramão da nossa sensibilidade, educando-nos a permanecer em dois lugares ao mesmo tempo. O preço que pagamos pelo exílio vem na forma de ansiedade, pânico, depressão.
Felicidade é não se distanciar do corpo. É sentir o corpo, conectado a uma única pessoa, a um único espaço, instante a instante.