Depois da separação, existe o risco de ser influenciado pelo ex ou pela ex? Como assim, se a relação já acabou?
Vocês não estão mais juntos, mas um dos dois pode cair na tentação de se vingar num insondável nível psicológico e emocional. Não é ostentar um novo romance, ou criar ciúme, ou provocar inveja. É passar a fazer tudo o que o ex ou a ex reclamava que você não fazia.
O ato falho traz consequências embaraçosas para a sua evolução.
Quando estava dentro da convivência, você negava-se peremptoriamente a qualquer transformação. Não admitia ser, de modo nenhum, o que o outro queria. Até porque defendia a sua identidade e compreendia as exigências como inconveniências invasivas, ameaças externas ao seu temperamento. E a separação veio à tona para preservar a sua individualidade, a sua autonomia, a sua independência até então questionadas.
No entanto, quando se afasta, num agir inconsciente, você começa a realizar revoluções exatamente iguais às que eram reivindicadas pela sua extinta parceria.
Não ostente mutações que não partem de estímulos interiores, apesar de serem todas positivas. Explore a sua sensibilidade, veja quais são os seus objetivos.
Se o outro protestava contra a sua saúde desleixada, o seu sedentarismo, de repente, agora sozinho, longe da cobrança, longe da necessidade de prestar satisfação, você se matricula numa academia de ginástica para malhar todos os dias sem dó nem piedade com a preguiça.
Para, ironicamente, alcançar o corpo que o seu antigo par fantasiava.
Se o outro lamentava a sua falta de cuidado na hora de se vestir, a sua mania de trajar roupas velhas, você joga fora o conteúdo das gavetas e renova o seu armário.
Para, ironicamente, apresentar a aparência que o seu antigo par fantasiava.
Se o outro implicava que você era workaholic e não tinha tempo para a família, inesperadamente, você amplia as suas folgas e permanece mais em casa.
Para, ironicamente, cumprir o tão sonhado espaço de lazer que o seu antigo par fantasiava.
Por que você empreende a lista de pré-requisitos para contentar alguém que é do seu passado, quando a reconciliação não está nos seus planos?
Para mostrar que pode! Para mostrar que, se pretendesse de verdade antes, teria feito.
Eu vejo com frequência pessoas separadas assumindo transformações radicais, não para serem eles mesmas, mas para serem espelhos do ex ou da ex.
São atitudes desprovidas de sentido prático. Você busca ser atraente e irresistível a quem não vai se reconciliar com você.
Não é uma volta por cima, mas uma volta para os lados.
Sem perceber, ainda reage à idealização alheia, sacrificando tempo precioso de sua vida para corresponder às expectativas fantasmas. Ainda que seja pela figura do desagravo, da demonstração cabal de força e potência, para calar dissidências anteriores, para aplicar uma lição, para expor o que o ex ou a ex perdeu e nunca mais terá.
Se deseja fugir dessa maldição, desse acerto de contas inútil, dessa vingança retardatária que o prendem àquele que não o merece, pense em quem você era antes do namoro ou casamento, no quanto já foi feliz desacompanhado. Não ponha os seus melhores esforços em cinzas. Na tentativa de reavivar a chama com o sopro, apenas levantará as cinzas em direção ao seu rosto, dificultando a sua percepção.
Não ostente mutações que não partem de estímulos interiores, apesar de serem todas positivas. Explore a sua sensibilidade, veja quais são os seus objetivos.
Curamo-nos mais rapidamente pela solidão, oferecendo finalmente um espaço para a redescoberta dos próprios prazeres. Distantes de qualquer influência, vamos muito além do que uma companhia anterior achava que era o certo.
É um período de desapego para cuidar de si, não mais para impactar terceiros.