A maior gentileza que você é capaz de fazer no amor é não atrapalhar a tranquilidade do seu parceiro. Você mais ajuda não atrapalhando.
Não invente de levar café da manhã no quarto a quem você ama, por mais que o gesto seja alardeado como um dos mandamentos românticos da vida a dois.
Trata-se do pesadelo da importunação. Sonho interrompido vira pesadelo.
A vontade daquele que dormia não é agradecer, mas despejar a linda bandeja com ovos mexidos, pãezinhos quentes, frutas e frios nos lençóis. Ninguém diz, mas é o que se pensa no ato. Pois se trata de um desjejum diabólico, forçado.
É muito melhor permitir que a sua companhia amarrote a cara no travesseiro no final de semana. Ela ficará mais feliz rolando na cama e aproveitando a bendita folga.
Mentalize o quanto a pessoa anda estressada, acumulando trabalhos pendentes, emendando reuniões, reclamando da falta de intervalo, bocejando sem parar, capotando no meio das séries ou filmes, e passe a conta ao papel: o que agradará mais, o café na cama ou o almoço servido?
Não seria mais empático deixá-la descansar até o meio-dia, preparar a refeição e aguardá-la com a mesa posta? A fome de amor virá em dobro.
Todo mundo que arma uma surpresa realiza o agrado bem cedo para não ser descoberto. Ou seja, invade o ambiente, obriga a pessoa de pijama a levantar de supetão, surge gritando enquanto o seu par está curtindo a imobilidade do aconchego. E ainda quer beijo, carinho e elogio pelo gesto. E ainda xinga a lentidão do homenageado para se sentar, dizendo que a comida vai esfriar.
É um assalto sentimental, um susto logo ao abrir os olhos.
Você estraga o único dia livre do outro, que estará de bafo, mal-humorado e cansado.
Preservar o sono alheio acarretará duradouras recompensas de cumplicidade. Não incomodar é o primeiro passo para o altar.
Relacionamentos terminam justamente porque não há respeito ao descanso sagrado. Parece bobagem, mas não poder dormir cria uma antipatia fatal.
Relacionamentos terminam justamente porque não há respeito ao descanso sagrado. Parece bobagem, mas não poder dormir cria uma antipatia fatal.
Casamento é aprender a ser fantasma de manhã: andar na ponta dos pés e pegar as roupas sem produzir barulho (se possível, separá-las no dia anterior).
Educação é não ser inconveniente, não impor o próprio ritmo ou vontade. Entre os itens básicos da etiqueta, não acender a luz, não usar a lanterna do celular, não bater a porta ao sair, não conversar ao telefone no cômodo ao lado, não ligar televisão ou rádio no volume da poluição sonora, não iniciar uma faxina com aspirador de pó. Qualquer baque ou barulho de dobradiça acordará o vivente. O sono na maturidade é tradicionalmente leve.
Além de garantir a paz doméstica, terá o bônus de não precisar arrumar a cama. O último que acorda deve ajeitar o quarto.