Você não ficará num trabalho ou num casamento se estiver insatisfeito, certo?
Tem como prioridade a sua felicidade, a paz do seu prazer, a liberdade das suas ideias, correto?
Se não está mais contente, pula fora? Não será refém da burocracia, da apatia e das intrigas, combinado?
Então, o comportamento do novo técnico do Internacional Eduardo Coudet não é tão polêmico assim. Ele só não é derrotista. Busca a realização, a superação, a glória. Joga tudo para o alto quando as expectativas são baixas e os sonhos rasteiros.
A alegação de que ele seria um traíra por parte da torcida é infundada, uma visão superficial dos bastidores. O que ele não faz é trair: principalmente trair a si mesmo, ultrajar os seus objetivos.
Temos que parar de entender lealdade como submissão.
No Racing, campeão argentino sob a sua regência, estava acostumado a não dividir o protagonismo, o comando, evitando poderes paralelos e influências dos cartolas em campo.
Recusa promessas, adiamentos, desculpas orçamentárias. Não abre mão de contar com o plantel realmente necessário para executar seu plano tático. Não admite limitações.
Jamais abandonou um clube com baixo rendimento. Saiu tanto do Inter quanto do Atlético, as duas equipes brasileiras que treinou até hoje, com mais de 60% de aproveitamento. Não pode ser tachado de acomodado. Antes de piorar, ele larga a casamata. Não se vale da hipocrisia para prolongar a sua permanência. Não concede coletiva dizendo que está tudo bem depois de um fiasco.
É de uma sinceridade implacável, para a qual não há amistoso, não há meio-termo. Carrega em seu DNA a resiliência obcecada do futebol argentino, a passionalidade pelo resultado favorável até o último minuto.
Das 81 partidas experimentadas entre o galo e o colorado, teve 21 empates. Entende que o empate é sempre um péssimo negócio, pois reflete covardia.
El Chacho demonstra ser da marcação alta, do excesso de gols, da ópera, dos extremos — ou vitória, ou derrota.
El Chacho demonstra ser da marcação alta, do excesso de gols, da ópera, dos extremos — ou vitória, ou derrota.
Difere da maioria dos técnicos, que esperam passivamente ser demitidos para receber a multa contratual. A tradição é aguardar a dispensa, o chute no traseiro, a armação pelas costas, a contratação de um substituto na surdina.
Treinador aqui virou uma espécie de corno manso do vestiário. Não pede o divórcio mesmo absolutamente isolado, mesmo debaixo de críticas e palavrões.
Coudet não tem sangue de barata. Toma a iniciativa da ruptura, arca com prejuízos se necessário, arruma as malas e procura um lugar onde ele possa atingir a alta performance.
Sem ambição, ninguém vive. É convivendo com os melhores que subimos a régua.
Eu gosto de Coudet. Inter acabou de salvar a sua temporada. Só não tente enganar o gringo, que ele não usa chantagem, birra, cara feia. Dá uma volta no seu cachecol, entrega a chave e parte determinado a ser feliz, não de qualquer jeito, do seu jeito.