Eu não dirijo bêbado. É regra inviolável. Assim como usar o cinto de segurança.
Não bebo nada, nem um gole, nem para provar o vinho da esposa. Nenhuma gota. Não abro exceção. Não importa se a festa é boa, inesquecível, com bebida liberada. Se eu saí com o carro, sou motorista. Antes de marido e pai, sou motorista. Eu me torno responsável por levar e trazer a minha família de volta. Não reclamo do sacrifício da abstinência. Não fico controlando aplicativos e sites de blitz para mudar de rota. Não faço balões para fugir das barricadas. Já testei duas vezes o bafômetro e não sofri controlando os decigramas de álcool no sangue. Apresentei os documentos em dia da minha respiração.
Mesmo se o bar é perto de casa, a algumas quadras, jamais molharei a garganta. O fim é pertinho da imprudência.
Decido se vou beber ou não antes de sair de casa. Não mudo de opinião depois. Se estou a fim de me divertir e suavizar o espírito espartano, eu me desloco de táxi até o local.
Não existe pouco ou muito. Por muito pouco, colidimos, distraímo-nos, perdemos o controle do volante. A bebida reage de forma diferente em cada corpo. Para algumas pessoas, os efeitos de um copo podem ser letais.
Já tive amigos que me tentaram na noite com drinques e chopes gelados. Já fiquei com a fama de não gostar de trago entre os mais próximos, até a minha esposa acredita nisso.
Dou de ombros para a aparência de careta. Não quero ostentar invulnerabilidade, malandragem ou loucura diante da minha roda de conhecidos driblando as normas.
Eu não deixo de beber porque é ilegal, e sim por princípio de meu caráter. A legislação está inscrita primeiramente em meu caráter. Caráter é ter a mesma postura diante de todas as situações e pessoas. Caráter é não alterar o comportamento quando não está sendo visto.
Um levantamento do Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran-RS) esclarece que, em 2021, quatro a cada 10 motoristas mortos em acidentes de trânsito apresentaram álcool no sangue. Não poderiam nem ser chamados de acidentes, mas suicídios e homicídios. Você assume o risco. Você sabe que está fazendo algo de errado. É como portar uma arma na cintura para se meter numa briga.
Os dados informam que o índice de vítimas fatais que testaram positivo para alcoolemia é de 38%. São números estratosféricos que dispensam argumentação. Nesse contexto, a maioria dos casos em que motoristas perderam a vida se concentra no período da madrugada (68,2%).
Que no relaxamento do verão, que nas ruas pacatas das praias, ninguém volte dirigindo do mar após caipirinhas e cervejinhas. Não conduza o veículo descalço ou embriagado acreditando na impunidade, jurando que não será parado por nenhum policial. Não tenha complacência com os acasos.
A morte não tira férias.