Caminhar pelas calçadas da Rua Cruzeiro do Sul, no bairro Santa Tereza, na zona sul de Porto Alegre, é presenciar casos de descumprimento de leis de trânsito. GZH esteve na manhã desta quinta-feira (5) no local onde um idoso com deficiência morreu ao ser atropelado por dois veículos que estariam fazendo um racha, no fim da tarde de terça-feira (3). Gelson da Silva, 69 anos, foi atingido quase na esquina com a Rua Maria José Alberton Silva.
Enquanto conversava com moradores e pedestres, por cerca de uma hora, a reportagem presenciou veículos fazendo retornos em local proibido, ignorando sinal vermelho em semáforos e alguns com velocidade aparentemente muito acima dos 60 km/h que sinalizam como limite as placas e a pintura no solo.
A doméstica Elenice Oliveira, 54, diz que a via é palco constante de rachas de carros e motos.
— Principalmente à noite e de madrugada têm muita corrida. Às vezes estou em casa e ouço os barulhos das corridas e penso: "Meu Deus, alguém vai morrer um dia". Acabou acontecendo, infelizmente — lamenta Elenice, que mora a uma quadra de onde aconteceu o atropelamento.
Morador de uma casa em frente ao local do atropelamento, que pede para não ser identificado, diz que estava entrando na residência quando ouviu um barulho. Ao sair pelo portão para ver o que ocorrera, deparou com a vítima:
— Um cara de moto foi atrás dos motoristas e chegou a falar com um deles. Ele chegou a voltar, mas depois foi embora.
— Aqui é um local com bastante racha. Tem muita moto correndo de dia e de noite. Ninguém respeita os sinais. Olha ali, ó — diz o homem, de 68 anos, apontando para uma moto que fazia o retorno num local proibido.
Geovane Fernandes dos Santos, 31, trabalha num ferragem próxima ao local do atropelamento. Diz que costuma orientar os clientes a terem cuidado ao estacionar e partir, em razão dos veículos “sempre em alta velocidade”.
— O pessoal faz bastante racha, tem "pega" de moto, passam empinando. Sinal fechado eles cruzam direto. É uma avenida sem lei — diz o comerciante, acrescentando que esse tipo de comportamento dos motoristas acontece em todos os turnos.
— Acho que aqui tinham de colocar uns quebra-molas. Lombada eletrônica aqui não vai adiantar. E os semáforos eles não respeitam, então acho que tem de ser quebra-molas, mesmo, para impedir a alta velocidade — sugere Geovane.
O que dizem as autoridades
O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Paulo Ramires, diz que, diante do acontecido, algumas ações na via que já estavam previstas serão antecipadas. Ele explica que a chamada Avenida Tronco teve os trechos três e quatro liberados ao tráfego há uma semana. E que toda a via recebe um monitoramento para identificar a necessidade de eventuais intervenções.
— Já determinamos um estudo técnico para verificar se há pontos ou ponto com a necessidade de instalação de equipamentos de controle de velocidade, seja através do radar móvel ou do equipamento de controle fixo. Então nós já antecipamos essa determinação — adianta Ramires, ao explicar que para implantar qualquer sistema desse tipo é preciso de estudo técnico.
Ramires também adianta que serão ampliadas as ações de fiscalização no local:
— Para que a gente consiga identificar visualmente alguma melhoria que precise ser feita. E também fazer com que as pessoas se habituem às modificações que foram implementadas.
Ações de educação para o trânsito na região também serão implementadas diante do acontecido.
— Não só do ponto de vista dos condutores, mas dos pedestres, para que percebam que houve uma modificação e que agora o trecho está totalmente liberado — adianta Ramires.
O diretor-presidente da EPTC faz um pedido para que os pedestres se atentem à sinalização, especialmente no que diz respeito a atravessar a via nas faixas de segurança.
O comandante em exercício do 1º Batalhão da Brigada Militar, major Márcio Luiz da Costa Limeira, também adianta que ações serão intensificadas na região. Conta que já há uma base móvel comunitária que fica próxima do local do fato que, inclusive, atendeu a ocorrência em pouco tempo.
— Em virtude do fato, que a gente lamenta e preocupa a todos, já estamos em contato com a prefeitura para operações integradas com a EPTC. Assim conseguimos um trabalho de maior fôlego na prevenção e mais efetivo durante as barreiras que costumamos fazer nessa região — relata o oficial.
Além do aumento de barreiras pelos próprios PMs e desse trabalho integrado, o major conta que rondas com motocicletas serão ampliadas e haverá um trabalho forte da equipe de inteligência para identificar participantes de rachas na via.
A investigação
A Polícia Civil segue as buscas por um jovem de 22 anos suspeito de atropelar e matar Gelson. A vítima foi atingida por um Voyage e por um HB20, que, segundo a polícia, participavam de um racha. O motorista do HB20, que também tem 22 anos, identificado como Leonardo Lopes da Silveira, foi preso na quarta-feira (4). Em depoimento aos policiais, ele optou por ficar em silêncio.
Conforme o delegado Cesar Carrion, que responde temporariamente pela Delegacia de Delitos de Trânsito, policiais foram até a residência do condutor do Voyage e não o encontraram. Um familiar teria dito que ele fugiu. O nome deste suspeito não foi divulgado.
GZH tenta falar com os advogados os suspeitos.