Nada como uma porta fechada para abrir as portas da imaginação. A criatividade surge como vingança de uma rejeição.
Não teríamos histórias fantásticas de personalidades se houvesse aceitação plena e imediata de seus talentos.
Evoluímos culturalmente porque muitos foram negados, zombados e questionados alguma vez na vida. Tiveram que superar condicionamentos, justificar seus experimentos e mudar a opinião pública.
Nenhum sonho acontece em linha reta.
Toda transformação de comportamento é consolidada a partir de uma crise.
Albert Einstein, criador da Teoria da Relatividade, Prêmio Nobel de Física de 1921, só aprendeu a falar aos quatro anos. Depois amargou expulsão da escola. Um de seus professores o descreveu como “mentalmente lento”.
Nosso poeta maior Carlos Drummond de Andrade também acabou expulso do colégio por “insubordinação mental”.
Louis Pasteur, alicerce teórico da microbiologia, descobridor da vacina contra a raiva e do processo de conservação do leite e do vinho, obteve a avaliação de medíocre na disciplina de Química em seu bacharelado em Ciências.
Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, recebeu uma carta da escola, endereçada à sua mãe.
“Seu filho tem um retardo mental. Por isso, não podemos educá-lo em nossa escola junto aos outros meninos. Recomendamos que você se encarregue de ensiná-lo em casa”.
A mãe de Thomas mentiu o conteúdo do bilhete ao filho, que somente desvendaria a verdade quando adulto:
“Seu filho é um gênio. Nossos professores não são qualificados o bastante para ensiná-lo. Por favor, você deve continuar a educá-lo em casa”.
São inúmeros os gênios dados como casos perdidos no decorrer da sua aprendizagem.
No mundo corporativo, também testemunhamos injustiças. Henry Ford e Walt Disney faliram suas empresas antes de alcançar o sucesso.
Um dos casos mais emblemáticos na era recente ocorreu com fundadores do Google, Sergey Brin e Larry Page, que fizeram contato malogrado com o Yahoo para sugerir uma fusão de negócios. A dupla não teve receptividade, aconselhada a seguir sozinha com o seu projeto experimental um tanto duvidoso.
O próprio Google provou do veneno da soberba ao recusar o sueco Daniel Ek, cofundador do Spotify, primeiro serviço de streaming de música de audição instantânea, sem a necessidade de download. A partir da cartinha dizendo que ele não contava com qualificação para trabalhar no Google, porque sequer apresentava curso superior no currículo, Daniel passou a empreender aplicativos. Hoje tem uma fortuna estimada em 1,9 bilhões de dólares.
Se não enfrentasse uma recusa em sua biografia, ele não teria feito o site de anúncios Advertigo, muito menos o Spotify. Talvez seguisse uma carreira burocrática num escritório, cumprindo tarefas, com um salário seguro no fim do mês, sem rompantes, sem iluminações. Viu-se obrigado a provar o seu valor com uma gana que unicamente vem à tona após o sabor amargo do fracasso.
A solidão e a exclusão são combustíveis para ideias pioneiras e originais. Toda transformação de comportamento é consolidada a partir de uma crise, de um enfrentamento, de uma polêmica.
O consenso serve para apoiar o que já existe, jamais para abrir novos caminhos.
Essas lideranças tecnológicas e científicas foram antes vocações desacreditadas. Conheceram a obscuridade árida de suas aspirações, estiveram no lado anônimo do boicote e souberam assim valorizar o sangue e o suor de cada conquista.