Você não adoece quando para. Adoece quando volta após um período parado.
O estresse surge depois das férias, quando você tenta compensar o trabalho acumulado.
Você chega do ponto morto do descanso para a quinta marcha do emprego. O que você decidia ficou estacionado. Ou seja, precisa recuperar dez ou quinze dias de contatos profissionais.
Não consegue nem contar para os familiares como foram as férias. Não tem tempo de fixar as lembranças, de comentar o que mais gostou da folga, qual foi o seu esconderijo, o que fez, o que descobriu, o que aprendeu.
É abduzido pela amnésia da velocidade, não pode perder nenhum momento com diálogos pessoais.
Durante o descanso, sumiu para os amigos; agora continua igualmente desaparecido na retomada da profissão. A sensação é que não voltou. Só o corpo veio com a bagagem, não a alma. A alma é uma mala extraviada.
Não que você seja insubstituível no seu posto, é que as mensagens continuaram chegando e não teve como analisar o conteúdo e passar adiante.
O ideal é que houvesse uma semana de meio período para se acostumar ao ritmo vertiginoso do atendimento. Você sai da solidão, da contemplação, do ócio, diretamente para o extremo da execução das tarefas, da realização de projetos coletivos e da prestação de contas.
É o equivalente a pular da rede para a balada, sem transição, sem readaptação do corpo.
Existe um sério risco de enfermidade, de colapsar, de acabar emendando as férias com a licença médica. Talvez não aguente o tranco e o excesso de solicitações. A ansiedade de querer resolver tudo de uma só vez e zerar o serviço é o precipício da mente. Você não se dá um desconto, não contextualiza os prazos. Mergulha na insalubridade emocional, achando que está terrivelmente atrasado para finalmente recomeçar a trabalhar — não entende o que deixou para trás como nova demanda.
Seu WhatsApp estará lotado de urgências, seu e-mail estará lotado de perguntas. Não poderá nem mais espiar as suas redes sociais ou postar aquelas fotografias turísticas pendentes.
Quando você decide reclamar, lamentar, chorar as pitangas, exorcizar, jogar os papéis para cima, pedir para diminuir a carga ou até cogitar a hipótese de se demitir, percebe que há, ao seu redor, 10,1 milhões de pessoas desempregadas no país.
Então engole o grito e trabalha arduamente, esperando as próximas férias. É um luxo hoje, depois da bancarrota da pandemia, ter emprego para esnobar com hipóteses.