Já sabe em quem votar? Veja se seu voto não é híbrido, esquizoide, confuso, em suas cinco opções. Em quantos partidos estará votando ao mesmo tempo? Dois, três, cinco?
Há algo de podre na política nacional: votar na pessoa, e não no partido. De repente, você estará votando, simultaneamente, num governador e num deputado estadual que fará oposição a ele e obstaculizará a aprovação dos projetos na Assembleia. Ou estará votando num presidente e num deputado federal que será contra os planos do Planalto.
O voto passa a ser incoerente, parcial, para o Executivo sem pensar no Legislativo e vice-versa, não levando em conta a cooperação entre os poderes. É possível eleger um representante para governar e um outro representante para vaiar o governante escolhido.
Na democracia norte-americana, se você é republicano, vota nos republicanos; se você é democrata, vota nos democratas, concordando ou não com o candidato eleito nas prévias.
Na democracia brasileira, o que prevalece é o personalismo. A conduta pessoal do aspirante a um posto público é maior do que a sua ideologia e sua carreira técnica, desencadeando messianismo e populismo.
Espera-se um salvador da pátria devido à falta de valorização da agremiação partidária.
Tanto que não há fidelidade. É natural que o candidato, ao não ser definido em convenção para o cargo almejado, mude de sigla. Isso quando não é eleito por uma plataforma (para alcançar o coeficiente de votos) e troca no decorrer do mandato. As vaidades pessoais se sobrepõem ao desejo da maioria dos correligionários.
Assim, diante do individualismo exacerbado, surgem partidos a cada nova deserção de um líder. Hoje temos 32 partidos no país, um leque absurdo para expressar opiniões tão parecidas.
Afora inimigos mortais que se tornam aliados, e aliados que se tornam inimigos mortais, num troca-troca de lado incompreensível para os registros eternos do Google. Há chapas majoritárias formadas por postulantes que já ofenderam a mãe um do outro. Palanques são levantados no banhado e sapos engolidos com frequência.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 10% da população votante é filiada a algum partido, 16 milhões dos nossos mais de 156 milhões de brasileiros aptos a votar. É um percentual muito baixo de engajamento. Toda eleição é uma amnésia, já que grande parte do eleitorado não tem um partido, um projeto político definido.
Pessoas traem mais do que partidos. Não se esqueça dessa verdade ao apertar na urna a tecla de confirmar.