Após 27 ligações telefônicas, 19 páginas revisadas, 44 chamadas de voz via WhatsApp, 195 mensagens em formato de texto ou de áudio encaminhadas à equipe, o editor Leandro Fontoura encerra as suas atividades no escritório adaptado no apartamento em que reside com a esposa, Priscila, e a filha, Luísa, 10 anos, no coração do bairro Jardim Botânico.
– No final da noite, a sensação de dever cumprido é a mesma, só que agora solitária – descreve Leandro.
Com os editores de capa Diego Araujo e Rosane Tremea, Leandro coordena os assuntos relacionados ao coronavírus no “baixamento” de ZH, como chamamos a finalização de uma edição impressa.
Há duas semanas, quando escrevi sobre a Redação Integrada em tempo de coronavírus, parte da equipe trabalhava em casa, mas a maioria dos editores de ZH permanecia no grande salão no quarto andar do prédio na esquina das avenidas Erico Verissimo e Ipiranga. A situação, agora, é diferente. Todos os profissionais do jornal estão em teletrabalho. Quero compartilhar um pouco desta nova rotina com vocês.
Para garantir a qualidade do jornal, Diego, Rosane e Leandro atuam como maestros em uma orquestra formada por editores e diagramadores acomodados em suas casas.
– Faço contato com Leandro, que cuida da cobertura de corona, por telefone. Com os demais, por WhatsApp. O passo seguinte é repassar os destaques das duas conversas para o grupo “capazh home office” – conta Diego, referindo-se a um dos grupos criados para facilitar a operação remota.
Orientados por Diego, Melina Gallo, diagramadora da capa e uma das guardiãs da qualidade gráfica de ZH, Marcelo Miranda Becker, editor de imagem, e Gabriela Simoni, de contracapa, selecionam e testam as imagens disponíveis.
– Reviso as pautas, monitoro agências de fotos, acompanho o fluxo de produção da equipe, atendo a pedidos de editores e repórteres, faço mediação entre diferentes áreas e planejo o dia seguinte – conta Marcelo, que interage com oito grupos de WhatsApp.
Em paralelo, Leandro Fontoura, distante 17 quilômetros de Diego, define a página pela qual cada editor será responsável. Como há edições com até 20 páginas sobre o tema, essa distribuição precisa ter um encadeamento que vá conduzindo o leitor pelos vários aspectos da vida cotidiana que são impactados pelo vírus, passando por saúde, economia, política, educação, comportamento, cenário internacional e até segurança pública.
– Com esse quebra-cabeça montado, que chamamos de espelho, passo a distribuir as tarefas para os editores. A equipe, formada por 10 pessoas, recebe as orientações nas quais estão descritas as reportagens que serão publicadas em cada página, com indicação de fotografia e infografia e o repórter responsável – detalha Leandro.
Com todas as páginas editadas e lidas pelo menos duas vezes, Leandro manda um e-mail para Rosane Tremea, que faz a terceira e última checagem de títulos e demais destaques da página antes de enviá-la para o parque gráfico.
– Anoto num arquivo todos os principais títulos para evitar que haja repetições. Há termos que têm sido usados à exaustão, como coronavírus, vacinação, Mandetta, Bolsonaro, colapso, médicos, enfermeiros, máscaras, covid-19, contágio. É mais difícil e lento do que fazemos na Redação, mas está provado que é possível – resume Rosane, com olhar atento para todos os detalhes.
Como milhões de brasileiros, seguimos nos reinventando todos os dias.