A repórter especial Adriana Irion e o filho Inácio, 10 anos, acomodam-se no sótão da casa localizada no extremo sul da Capital às 7h, um pouco depois do café da manhã. Com a repórter investigativa, bloco de anotações, gravador e um radinho sintonizado na Gaúcha. Nas mãos de Inácio, cadernos e livros. No escritório improvisado, ambos acessam o computador: enquanto Adriana mergulha no noticiário, o filho mais novo acessa os conteúdos escolares. A fase é de adaptação.
– Passamos o dia assim, com rádio, TV e celular a postos, mergulhados no mundo lá fora – conta Adriana, por e-mail.
Como a Adriana, outros 168 de um total de 259 profissionais da Redação Integrada foram orientados a trabalhar em casa devido ao avanço do coronavírus no Brasil. Em 55 anos de Zero Hora, jamais houve mudança tão brusca e profunda na rotina da Redação.
Para preservar nossos profissionais e continuar informando com precisão e qualidade em um momento sem precedentes na história recente do país, montamos uma operação de guerra. Sob a coordenação da diretora de Jornalismo Jornais e Rádio, Marta Gleich, e do editor-executivo de Jornalismo Jornais, Nilson Vargas, a ordem é trabalhar com o menor número possível de pessoas dentro da Redação. Os que permanecem são orientados a ficar distantes uns dos outros. Ilhas de trabalho que abrigavam oito jornalistas vão acomodar somente uma pessoa. As páginas que, em dias normais, são impressas e lidas por duas pessoas antes de irem para as rotativas passaram a ter revisão apenas no ambiente digital, na tela do computador. Com isso, evitamos que folhas circulem de mesa em mesa. A tradicional reunião da manhã, que mobilizava uma dezena de editores na sala 305, foi esvaziada. No lugar de encontros presenciais, videoconferências e conversas por grupos de WhatsApp. O ambiente afetuoso e de camaradagem da Redação continua existindo, mas sem abraços, sem beijos e com mais regras de convivência.
Parte da equipe operando remotamente não implica menos conteúdo em ZH, Rádio Gaúcha, GaúchaZH e Diário Gaúcho. Pelo contrário. Produzimos um guia especial do coronavírus digital e encartado em ZH e DG, distribuímos informações focadas em serviço para cerca de 800 assinantes cadastrados em listas no WhatsApp, abastecemos newsletter enviada duas vezes por dia para 8,9 mil leitores, temos consultorias diárias pelo Gaúcha 2 com especialistas da área da saúde destinadas a tirar dúvidas de ouvintes e leitores. Temos contexto e análise todos os dias em todas as plataformas. A audiência em Gaúcha ZH cresceu 62%, mostrando o enorme interesse do público sobre o tema.
Para os líderes, uma das preocupações é dar atenção e tranquilidade para colegas. Na Redação, permanecemos em constante mobilização, orientando sobre protocolos, compartilhando decisões da empresa, tirando dúvidas. Como escreveu Marta Gleich em mensagem à Redação, “precisamos estar fortes e preparados”:
– Não sabemos quanto tempo isso vai durar e rezamos para que a gravidade da situação não seja pior do que o previsto. Precisamos estar fortes e preparados para seguir exercendo nossa missão de informar com precisão, credibilidade e agilidade.
Para quem atua de forma remota, além do contato com gestores, a convivência com familiares e filhos ameniza a angústia.
– Hoje (quinta-feira), Inácio me ajudou para uma entrada na rádio. Buscou água para atenuar meu pigarro e disse: “Fica calma, mãe”. Depois, a avaliação: “Começou meio baixo, mas depois ficou bom, mãe” – descreve Adriana, que também é mãe de João Pedro, 14 anos.
Na Santana, a editora de Imagem, Milena Schoeller, no quarto dia de trabalho a distância, repaginou o apartamento:
– O quarto do Antônio (10 anos) transformei em escritório e o quarto do Pedro (cinco anos) virou estúdio de rádio. A sala agora é uma brinquedoteca. O momento é difícil, mas vamos sair dessa!