Há pouco mais de um ano, a repórter Larissa Roso desembarcava no Aeroporto Internacional Salgado Filho após percorrer 1,2 mil quilômetros ao longo de 10 dias em Portugal. Na bagagem, histórias de brasileiros, em especial gaúchos, que rumaram ao país europeu em uma nova e ampla onda migratória que incluía estudantes e profissionais. A apuração se transformou na grande reportagem “Gaúchos além-mar”, publicada no caderno DOC.
Larissa acionou os seus contatos, entrevistou dezenas de pessoas e descobriu que há um hiato entre postagens nas redes sociais, com a Torre de Belém ao fundo, e a crueza da vida real. Além da dificuldade de conseguir emprego, Larissa descobriu que brasileiros com baixa instrução enfrentam um problema crescente na Europa: a xenofobia.
Uma universitária entrevistada pela repórter descreveu da seguinte forma sua breve experiência em Portugal:
– Te exploram! Acham que brasileiras são putas, e os homens, ladrões. Te tratam bem na Europa se você é turista. No momento em que você pede trabalho, começa a discriminação.
Sugerida por um leitor, a reportagem teve apuração complexa. Não é fácil convencer pessoas cheias de sonhos a relatarem seus fracassos ao tentar a vida do outro lado do Atlântico.
– Me surpreendi com os relatos que vi em grupos de brasileiros. Tem vários grupos fechados onde eles contam histórias sobre o “lado b” de Portugal. No ano passado eu senti, em algumas entrevistas, que a vida vivida não era igual à vida postada nas redes sociais. Muitos que voltaram ou querem voltar repetem isso – conta Larissa, destacando que, em Portugal, brasileiros já são maioria em programa da ONU que ajuda a repatriar imigrantes.
Com a reportagem, ZH, além de seguir interpretando fenômenos contemporâneos, volta a assuntos que tiveram destaque no jornal – esta, aliás, é uma das sugestões frequentes dos leitores, que costumam cobrar o acompanhamento de temas que foram objeto de apuração jornalística. As quatro páginas do caderno DOC (também disponível em GaúchaZH) são de alto interesse dos nossos leitores. Afinal, quem não conhece alguém que foi, que voltou ou que pensa em tentar a vida em outro país?