Advogado especializado em Direito Internacional, Daniel Toledo, sócio-fundador de uma empresa que auxilia clientes em processos migratórios, acredita que grande parte dos brasileiros que buscam Portugal são motivados por facilitadores como o mesmo idioma e os processos menos burocráticos. Atualmente, Toledo elenca quatro razões principais para o fracasso de tentativas de emigração: dificuldade de adaptação, alto custo de vida, falta de emprego e mau planejamento. O salário mínimo português é de 600 euros (R$ 2,7 mil), um dos menores do continente. Remunerações entre 800 e mil euros, segundo o advogado, são consideradas de classe média-baixa. Esses valores impactam a qualidade de vida.
— Quando o brasileiro chega e depara com essa realidade, pensa: poxa, o que é melhor? Ficar em Portugal com minha família sendo um imigrante, muitas vezes ilegal, sendo até perseguido pela polícia de fronteira, com riscos absurdos, para ganhar mil euros por mês e viver uma vida mais ou menos? Ele prefere voltar para o Brasil e livrar-se desse problema — diz Toledo. — Portugal é um Brasil que deu certo até a página dois. A questão cultural é parecida com a brasileira. Português adora pagar baratinho, adora o “jeitinho” para ver se dá certo. Os salários são mais baixos, há fartura de mão de obra porque a Europa está próxima de países subdesenvolvidos. Há uma imigração imensa de pessoas de diversos países. É uma mão de obra mais barata, e isso joga os salários lá embaixo.
Personagem da reportagem de ZH em 2018, Roberta Nardes, natural de Santo Ângelo, há 17 anos em Portugal, comanda a First Class, atendendo a um público que deseja realizar eventos e tours personalizados ou investir. Um dos serviços oferecidos é o de assessoria para compra de imóveis (que pode auxiliar na obtenção do visto de residência). Roberta comenta que os preços estão nas alturas:
— Há três anos, com 500 mil se conseguia comprar um apartamento bom, em avenidas e bairros nobres. Imóveis excelentes, de três ou quartos, por 400 mil, 350 mil euros. Hoje em dia, possibilidades assim são um achado. Há muita procura, e a oferta é pequena.
Os aluguéis também estão inflacionados. Se até pouco tempo atrás era possível locar um apartamento de dois quartos no centro da capital portuguesa por 800 euros, agora é quase impossível, informa Roberta.
Quando o brasileiro chega e depara com essa realidade, pensa: poxa, o que é melhor? Ficar em Portugal com minha família sendo um imigrante, muitas vezes ilegal, sendo até perseguido pela polícia de fronteira, com riscos absurdos, para ganhar mil euros por mês e viver uma vida mais ou menos? Ele prefere voltar para o Brasil e livrar-se desse problema.
DANIEL TOLEDO
Advogado especializado em Direito Internacional
— Não existe. Os senhorios terminam o contrato e mudam o preço: “O seu aluguel era de 800 euros e vai passar para 1,5 mil euros. Se quiser ficar, vai pagar esse valor”. Muita gente está saindo do centro e indo para a Grande Lisboa porque os valores estão muito altos para quem tem o salário daqui. Até os portugueses estão saindo do centro. Hoje em dia, a maioria é de estrangeiros. O poder de compra do português é bem menor, não comporta pagar esses aluguéis. O centro de Lisboa está surreal até para os portugueses — constata a empresária gaúcha.
Como sugestão, Toledo recomenda foco no planejamento, tanto para quem vai sozinho quanto para aqueles que pretendem viajar com a família:
— Sugiro ir antes para conhecer o local, ver a cultura regional. O clima é importantíssimo. Depois, conversar com um profissional que possa orientar acerca de vistos possíveis, melhores caminhos e regras. Se for abrir algum negócio, buscar uma consultoria local que conheça o mercado e possa orientar cada passo.
Roberta é objetiva com quem lhe pede opinião sobre a mudança definitiva. Para tentar viver em solo português, salienta, “tem que estar com os pés bem no chão”:
Aqui está cada vez mais concorrido, mais complicado. Portugal já não é para qualquer um. Vejo muita gente de classe média ou média-baixa querendo vir, mas sem poupança. Acham que Portugal, por ter a mesma língua, é fácil, mas não é fácil. Não iludo as pessoas.
ROBERTA NARDES
Empresária gaúcha
— Aqui está cada vez mais concorrido, mais complicado. Portugal já não é para qualquer um. Vejo muita gente de classe média ou média-baixa querendo vir, mas sem poupança. Acham que Portugal, por ter a mesma língua, é fácil, mas não é fácil. Não iludo as pessoas.
O advogado brasileiro que tem passaporte italiano e prefere não se identificar, mencionado anteriormente, testemunha outros conterrâneos perdendo dinheiro e bens por decisões tomadas de impulso ou sem as devidas ponderações. Um amigo seu utilizou todas as economias para matricular a filha na Universidade de Coimbra. A menina não se adaptou, teve péssimo desempenho e abandonou o curso no primeiro semestre:
— É uma tristeza. Às vezes, a gente demora uma vida para fazer uma poupança. É difícil empreender e achar emprego qualificado. Tem empregos que os portugueses não querem. Os brasileiros ainda são explorados, trabalham mais. Um empregado de mesa (garçom) brasileiro ganha menos do que o português que faz o mesmo. Emigrar não é sempre a solução. As pessoas têm todo o direito de emigrar, mas que saibam do lado B. Quando vim, um amigo me disse que os portugueses são conservadores, preconceituosos. Observei que isso existe mesmo. Não vim achando que era uma maravilha. Venha, mas não venha com tudo o que você tem, faça uma experiência.