Um dos papéis do jornalismo é iluminar cenários e dar sentido para iniciativas que, em um primeiro olhar, parecem isoladas e desarticuladas.
É o que Marcelo Gonzatto fez na reportagem que é manchete da edição deste final de semana. O repórter nos revela que quatro projetos privados, ainda em gestação, pretendem investir quase R$ 2 bilhões na instalação de minas no Estado. Depois de décadas de estagnação, o setor, com o incentivo do Palácio Piratini, volta a ganhar tração — sob protesto de ambientalistas, aplauso de investidores e silêncio da maioria da população, que desconhece os empreendimentos em fase de licenciamento.
Gonzatto esbarrou no tema no final de março, quando produziu reportagem sobre a Mina Guaíba, em estudo para ser implantada no limite dos municípios de Eldorado do Sul e Charqueadas, na Região Metropolitana, próximo ao Delta do Rio Jacuí. Com processo tramitando nos escaninhos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fepam), a mina, da Copelmi Mineração, será a maior do país. Após a reportagem, a editora de Notícias, Dione Kuhn, fez uma provocação.
— Desafiamos o Gonzatto a verificar se havia um movimento maior para transformar o Estado em um polo minerador — conta Dione, que também coordena o Grupo de Investigação (GDI) da RBS.
Gonzatto deparou com um ciclo de investimentos em estágio de maturação. Além do carvão, há planos de extração de chumbo, zinco e cobre, em Caçapava do Sul, de fosfato e calcário, em Lavras do Sul, e de titânio e zircônio, em São José do Norte, no Extremo Sul. Se todas se tornarem realidade, 2.277 postos de trabalho serão criados.
— É um tema relevante para todos os gaúchos porque tem impactos econômicos, sociais e ambientais, mas também difícil de tratar por ter grande complexidade técnica. Isso aumenta a responsabilidade dos jornalistas ao cobri-lo — diz Gonzatto.
O repórter teve o cuidado de consultar diferentes públicos para esquadrinhar os prováveis impactos dos empreendimentos: empresários, ambientalistas, agentes públicos, comunidade acadêmica foram ouvidos. Com a reportagem que ocupa duas páginas, Zero Hora traz mais informações para um assunto que impacta todo o Estado.