Falar mal dos políticos virou mania nacional. A crítica, muitas vezes justificada, surge da percepção de que a classe política usa o poder para benefício próprio, em prejuízo do bem comum. A recente aprovação da PEC da Anistia, que isenta partidos de multas por descumprimento de cotas raciais, é um exemplo dessa prática. Sem cerimônia, deputados e senadores perdoaram suas siglas pelo descumprimento de uma regra que eles mesmos haviam aprovado anteriormente. O corporativismo prevaleceu: campos ideológicos opostos esqueceram suas diferenças e votaram juntos. O texto recebeu o apoio da maioria das bancadas, incluindo os antagônicos PT, do presidente Lula, e PL, do ex-presidente Bolsonaro.
Ao tolerarmos essas pequenas infrações, validamos a corrupção sem perceber, criando um ambiente propício para escândalos e desvios maiores nos altos escalões
No entanto, mais do que culpar os políticos, proponho uma autocrítica. Estamos acostumados a apontar o dedo para eles como se fossem extraterrestres vindos de uma galáxia distante para assumir o poder no Brasil. Esquecemos que os eleitos são o reflexo de quem os elege. Eles representam nossas virtudes, mas também nossos defeitos, que, infelizmente, são muitos. O famoso “jeitinho brasileiro”, tão arraigado à cultura nacional, é o passe livre para a prática de pequenos deslizes legitimados sob o frágil argumento de que “todo mundo faz”. Assim, sonegamos impostos, usamos carteirinha falsa, fingimos sono para não dar lugar a idosos ou grávidas no transporte público, ocupamos vagas reservadas para deficientes físicos, idosos ou gestantes, colocamos filhos grandes no colo para furar filas preferenciais, simulamos doenças para obter licença médica, compramos produtos piratas e recorremos ao “gatonet” para ter acesso gratuito a canais pagos, entre outros exemplos.
Ao tolerarmos essas pequenas infrações, validamos a corrupção sem perceber, criando um ambiente propício para escândalos e desvios maiores nos altos escalões. Assim, a mudança que tanto desejamos não virá de cima para baixo. É preciso que cada um de nós reveja suas atitudes e assuma a responsabilidade de construir uma sociedade mais íntegra. Só então teremos políticos mais éticos e transparentes, verdadeiramente preocupados com os interesses dos eleitores. Quem sabe a gente começa pela eleição municipal que se aproxima, dando a devida atenção aos candidatos e a suas propostas? A votação é daqui a menos de um mês, mas ainda dá tempo.